Dra. Paula Corteze Auzani
Curitiba, PR
Estudo da assimetria craniofacial em indivíduos com desordens temporomandibulares
Paula Corteze Auzani1, Kilian Cristoff2, Luis Ricardo Prevedello3, José Stechman Neto4 1Graduando em Odontologia pela UTP 2CD, Especializando em DTM e Dor orofacial pela UTP 3CD, Especialista em DTM e Dor orofacial pela UTP
4CD, Mestre, Coordenador do Centro de Diagnóstico e Tratamento da Articulação Temporomandibular da UTP
Autor correspondente:
Luis Ricardo Prevedello Rua Sydnei Rangel Santos, 238, 82010-330 - Santo Inácio - Curitiba, Paraná E-mail: lrprevedello@yahoo.com.br
RESUMO
Alterações anatômicas bilaterais na distância e na angulação entre a cabeça da mandíbula e o processo coronóide foram observadas em radiografias panorâmicas de pacientes que apresentam cefaleias. O presente trabalho foi baseado na análise e no traçado de 16 radiografias panorâmicas. A distância e a angulação entre o processo coronóide e a cabeça da mandíbula foram analisadas nos lados direito e esquerdo de cada paciente. A comparação entre os valores referentes às mensurações realizadas nas radiografias panorâmicas revelaram a presença de diferença significativa entre as medidas entre o processo coronóide e cabeça da mandíbula entre o antímero esquerdo e direito. As diferenças estatisticamente significativas entre as mensurações deste estudo sugerem que a alteração da distância entre o processo coronóide e a cabeça da mandíbula está relacionada com a ocorrência de cefaleia nestes pacientes. Contudo, estudos futuros são necessários para investigar efetivamente a relação entre as assimetrias faciais nos pacientes portadores de diferentes tipos de cefaleia.
Palavras-chave: Transtornos da articulação temporoman- dibular; Cefalometria; Desenvolvimento maxilofacial.
ABSTRACT
Anatomical changes in distance and bilateral angulation between the condyle and the process coronoid were observed on panoramic radiographs of patients presenting headache. This study was based on analysis of 16 panoramic radiographs with concern to distance and the angulation between coronoid process and mandibular condyle in the right and left side of each patient. Measurements performed in panoramic radiographs revealed significant differences between angulation between coronoid process and mandibular condyle. These differences suggest that changes in distance between the coronoid process and the condyle is related to the occurrence of headache. However, further studies are required to investigate the relationship between facial asymmetry and different types of headache.
Keywords: Temporomandibular joint disorders; Cephalometry; Maxillofacial development.
INTRODUÇÃO
A avaliação da assimetria funcional do complexo craniofacial geralmente envolve o padrão de movimento da mandíbula e a atividade dos músculos mastigatórios. Considerando que todas as faces são assimétricas, o que determinará a necessidade de tratamento é a questão estética relatada pelo paciente bem como a importância clínica relacionada aos sinais e sintomas relativos a patologias. A assimetria é uma característica comum no homem pois tanto a estrutura como a morfologia de órgãos pares diferem nos lados direito e esquerdo do corpo1,2.
A presença de fibras musculares próximas ao ramo e a região condilar pode ser notada entre nove e dez semanas de vida intra-uterina, sendo reconhecidas como fibras do músculo pterigóideo lateral. Sua porção superior segue em direção à futura área discal e a sua porção inferior vai em direção à região do pescoço condilar. Próximo à região do processo coronóide, fibras do músculo temporal podem ser observadas3.
A fisiologia da articulação temporomandibular está fundamentada no desenvolvimento crânio- facial, tanto do esqueleto ósseo-cartilaginoso, quanto na porção musculotendínea. Esta complexa função no ser humano aparece devido ao papel fundamental dos dentes na função articular4. O músculo temporal pode ser considerado como o principal músculo posicionador da mandíbula durante sua elevação, sendo o mais sensível dos músculos mastigatórios às interferências oclusais. Ele possui um papel etiológico no aumento reativo do processo coronóide, já que existe uma relação direta entre o desenvolvimento do processo coronóide com a função do músculo temporal4,5. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a assimetria facial estrutural de pacientes com cefaleia relacionada a disfunção temporomandibular por meio de radiografias panorâmicas.
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Tabela 1. Mensurações obtidas em radiografias panorâmicas
Paciente
Dados pessoais
Lado direito mensurações em milímetros
Lado esquerdo mensurações em milímetros
Idade Sexo
Co/Cr Co/Go Cr/Go
Co/Cr Co/Go Cr/Go
1
48 F
33 61 61
30 63 60
2
34 F
37 67 59
30 65 57
3
22 F
38 65 64
39 66 61
4
65 F
37 57 57
28 55 56
5
52 F
36 69 70
33 69 71
6
47 M
32 72 76
37 74 80
7
59 F
32 59 56
34 61 59
8
59 F
29 51 57
30 47 54
9
59 F
37 63 58
38 63 59
10
66 F
39 64 64
36 69 63
11
55 F
28 56 60
27 63 62
12
45 F
31 58 65
26 62 60
13
29 F
36 59 55
32 59 58
14
54 F
40 74 56
36 71 58
15
37 F
34 66 66
37 72 64
16
28 F
40 73 59
39 74 62
Tabela 2 – Valores de significância entre as medidas
Mensuração
Valor médio mensurações em milímetros
Valor máximo mensurações em milímetros
Valor mínimo mensurações em milímetros
Desvio padrão
Valor dep
Co/Cr
34
40
26
0,409
0,046*
Co/Go
64
74
47
0,681
0,077
Cr/Go
61
76
54
0,592
0,463
* indica diferença estatisticamente significativa entre as mensurações, segundo o teste de Wilcoxon. Valores de p<0.05 foram considerados estatisticamente significativos.
MATERIAL E MÉTODOS
Vinte e seis pacientes submetidos ao exame radiográfico panorâmico há menos de seis meses com relato frequente de cefaleia foram selecionados. Dentre os 26 pacientes previamente selecionados, 16 concordaram em participar do estudo. Os pacientes concordaram em participar livre e espontaneamente da pesquisa respondendo o questionário desenvolvido
e validado pela Faculdade de Odontologia de Araraquara sobre a relação entre cefaleia e disfunção temporomandibular6. O questionário consta de 26 perguntas, abordando dados do paciente como: idade, sexo, lado da dor, período de pré-existência da dor, possível relação com algum período, fato ou acontecimento, intensidade, remissão da dor com administração de medicamentos, se estes medicamentos foram prescritos por algum médico ou
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por auto-medicação, entre outras perguntas. Todo o delineamento experimental foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/PUC-PR 0005769/12).
A avaliação da assimetria facial foi realizada por meio de radiografias panorâmicas executadas pelo mesmo técnico e pelo mesmo aparelho5,6. O traçado foi realizado sobre o negatoscópio pelo método manual para determinar as medidas entre o ponto Cr (processo coronóide), ponto Co (cabeça da mandíbula) e o ponto Go (Gônio), com auxílio de lapiseira e paquímetro manual. Foram obtidas as medidas lineares e as áreas entre o antímero direito e esquerdo. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística por meio do teste de Wilcoxon não paramétrico para duas amostras dependentes. Os testes foram realizados pelo programa Statistica (Tulsa, Oklahoma). Valores de p<0.05 foram considerados estatisticamente significantes.
RESULTADOS
Foram avaliados 16 indivíduos portadores de cefaleia com idade variando de 22-66 anos, sendo quinze do sexo feminino e apenas um do sexo masculino. Todos os indivíduos apresentavam cefaleia, independente do tipo da referida patologia. A Tabela 1 apresenta as medidas lineares entre os pontos Co/Cr, Co/Go, Cr/Go de cada indivíduo. A Tabela 2 representa as diferenças significativas entre as mensurações entre Co/Cr, ou seja, foi observado assimetria entre a articulação temporomandibular direita e esquerda em pacientes que apresentam cefaleia.
DISCUSSÃO
Dores de cabeça estão entre as reclamações mais comuns em indivíduos com DTM. Devido à relativa escassez de informações de base populacional sobre o potencial comorbidade entre ambas as condições, justifica-se a proposta deste estudo. Os sintomas de DTM, em diferentes conjuntos de combinações, são mais prevalentes em indivíduos com dor de cabeça do que em indivíduos sem dor de cabeça7. Embora isto possa refletir alguma circularidade no raciocínio, os resultados são reforçados por diferentes taxas de sintomas em síndromes de dor de cabeça diferentes, bem como pela associação positiva de sintomas não dolorosos. Além disso, nossos resultados revelam que a dor de cabeça se mostra como um dos sintomas mais comuns em indivíduos com DTM. A comparação entre a presença de possíveis DTMs e de síndromes de dor de cabeça encontrada em nosso estudo com os outros estudos torna-se difícil
devido às diferenças referentes a amostras, critérios e métodos utilizados para a coleta das informações. Neste estudo, a relação entre assimetrias faciais e as cefaleias foram relacionadas. Szentpétery et al (8), em um estudo epidemiológico, relataram a cefaleia como o principal sintoma de DTM. No estudo de Gomes e Guimarães(9), a cefaleia esteve presente em 98,2% dos pacientes. Nossos resultados também revelaram a cefaleia como sintoma mais prevalente, atingindo um índice de 90,9%. Esta alta incidência de cefaleia pode ser considerada como uma consequência do trauma direto sofrido pelos pacientes, resultando em lesões e tensões envolvendo músculos cranianos, os quais podem estar relacionados com as assimetrias.
De acordo com a Dworkin et al(10), um diagnóstico preciso das disfunções emporomandibulares requer uma cautelosa anamnese bem como um minucioso exame oral e psicológico. De fato, esta abordagem resulta em um custo elevado, o que pode inviabilizar inquéritos populacionais. Assim, observa- se grande variação entre os resultados previamente publicados.
CONCLUSõES
As diferenças estatisticamente significativas entre as mensurações deste estudo sugerem que a alteração da distância entre o processo coronóide e a cabeça da mandíbula está relacionada com a ocorrência de cefaleia nestes pacientes. Contudo, estudos futuros são necessários para investigar efetivamente a relação entre as assimetrias faciais nos pacientes portadores de diferentes tipos de cefaleia. Com efeito, uma melhor compreensão da relação entre as cefaleias e seus fatores agravantes certamente contribuirão para o desenvolvimento de estratégias mais efetivas na prevenção e tratamentos destes sintomas.
REFERÊNCIAS
1. Katsavrias EG. Changes in articular eminence inclination during the craniofacial growth period. Angle Orthod. 2002;72(3):258-64. 2. Melnik AK. A cephalometric study of mandibular asymmetry in a longitudinally followed sample of growing children. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1992;101(4):355-66.
3. Hans MG, Enlow DH, Noachtar R. Age-related differences in mandibular ramus growth: a histologic study. Angle Orthod. 1995;65(5):335-40. 4. Isberg A. Disfunção da Articulação Temporomandibular - Um guia para o clínico. Porto Alegre. Editora Artes Médicas; 2005.
5. Catic A, Celebic A, Valentic-Peruzovic M, Catovic Volume 06 | no 04| 2012
199
A, Jerolimov V, Muretic I. Evaluation of the precision of dimensional measurements of the mandible on panoramic radiographs. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 1998;86(2):242-48.
6. Franco AL, Goncalves DA, Castanharo SM, Speciali JG, Bigal ME, Camparis CM. Migraine is the most prevalent primary headache in individuals with temporomandibular disorders. J Orofac Pain. 2010;24(3):287-92.
7. Dworkin SF, Huggins KH, LeResche L, Von Korff M, Howard J, Truelove E, et al. Epidemiology of signs and symptoms in temporomandibular disorders: clinical signs in cases and controls. J Am Dent Assoc. 1990;120(3):273-81.
8. Szentpetery A, Huhn E, Fazekas A. Prevalence of mandibular dysfunction in an urban population in Hungary. Community Dent Oral Epidemiol. 1986;14(3):177-80.
9. Gomes MB, Guimaraes JP. Os sinais e sintomas de desordens temporomandibulares em decorrência de interferências oclusais em balanceio. Revista do Serviço de ATM. 2003;3(2):18-23.
10. Dworkin SF, LeResche L, Von Korff MR. Diagnostic studies of temporomandibular disorders: challenges from an epidemiologic perspective. Anesth Prog. 1990;37(2-3):147-54.
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Dra. Paula Auzani é Cirurgiã-Dentista em Curitiba, PR - Brasil. Possui graduação em odontologia pela UTP - Universidade Tuiti do Paraná, 2014. Atua como clínico geral. Faz... Leia mais
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