Implicações Odontológicas na Doença de Parkinson

  Artigo, 28 de Out de 2010

De acordo com Steifler;Hoffman (1984), na doença de Parkinson, o tremor é um dos primeiros sinais e geralmente afeta as mãos, lábios e língua. Bradicinesia é outro fator comum e frequentemente envolve a musculatura orofacial. Tem sido observados tremor e rigidez da musculatura orofacial, o que pode induzir dor orofacial, desconforto na Articulação Têmporo-mandibular (ATM), fratura dental, trauma dos tecidos moles, deslocamento de restaurações e falta de controle salivar. Além disso, é relatado que pelo menos 75% dos pacientes com DP apresentem algum tipo de alteração de voz ou na fala.

Em estudo realizado por Jette et al. (1993) com 1156 idosos, com idade superior a 70 anos, moradores de New England, EUA, com o objetivo de determinar a relação entre a perda de habilidade motora/funcional com a piora da saúde oral.

Os critérios usados para mensurar a saúde oral foram a ausência de dentes, a presença de lesões de cárie e a presença de bolsas periodontais, enquanto a habilidade motora foi avaliada por meio de questionamentos com relação a dificuldades nas atividades de cuidado pessoal, incluindo a higiene bucal.

Concluíram que a perda de habilidade motora e funcional é um fator de risco para doenças bucais na população idosa.Segundo Curiati (2000), dentre as causas extradigestivas, as doenças que afetam o sistema nervoso central são uma causa importante de deficiência.

A DP e outros problemas neurológicos e neuro musculares também comumente cursam com dificuldades à deglutição. A deglutição automática é afetada e o paciente pode tender a babar, o que pode ser muito embaraçoso na presença de outras pessoas.

Convém lembrar que a integridade da deglutição não só garante a manutenção do estado nutricional do paciente, mas também protege o trato respiratório contra acidentes com aspiração de conteúdos da orofaringe. A aspiração pode ocorrer com grandes volumes, quando é facilmente perceptível ou como microaspiração, que também acarreta complicações pulmonares.

Para Fiske, Hyland (2000) é um paradoxo a condição de hipersalivação quando a xerostomia é uma das complicações bucais mais freqüentes, porém o excesso de saliva, na condição de baba, é muito descrito na literatura.

De fato, não se trata do aumento na produção salivar, o que ocorre é que devido à dificuldade de deglutição, manutenção da postura com a cabeça sempre inclinada para baixo e deficiência no controle muscular facial, o paciente com DP tende a babar em excesso o que se torna embaraçoso para o indivíduo prejudicando suas relações sociais, além de ser uma das causas de freqüentes quadros de queilite angular e infecção por cândida.

O excesso de saliva também vem sendo relacionado a problemas dentais agudos. Cuidados bucais regulares podem ajudar a evitar esse quadro e uma consulta com fonoaudiólogo para orientações e treino de técnicas que facilitem ou melhorem a deglutição pode ser igualmente benéfico.

Segundo Clifford; Finnerty (1995) a incidência de xerostomia é reportada em torno de 3-5% do total da população, presente em 20% dos idosos em geral e afeta 55% dos portadores da Doença de Parkinson.

A redução quantitativa e qualitativa do fluido salivar, nesses casos, está geralmente relacionada aos efeitos parasimpatomiméticos ou antimuscarínicos das drogas administradas para controle dos sintomas da doença e não como característica clinica da doença propriamente dita.

Em 1992, na Suécia, Persson et al. investigaram 30 idosos (17 homens e 13 mulheres) portadores da doença de Parkinson por mais de quatro anos com o objetivo de comparar a saúde oral destes com um grupo controle formado por idosos saudáveis na mesma faixa etária.

Como resultados,observaram que os portadores de DP possuíam maior numero de dentes e  menor quantidade de  lesões de carie que o grupo controle (66% vs. 70%), apesar de  apresentarem disfunções motoras em 47% deles e distúrbios autônomos como o baixo fluxo salivar.

A necessidade de tratamento periodontal em portadores da DP foi estudada por Schwarz, Heimhilger e Storch (2006) na cidade de Leipzig, na Alemanha. Foi utilizado como método o índice Community Periodontal Index for Treatment Needs (CPITN) em 70 pacientes com DP comparando os valores obtidos com um grupo controle formado por 85 indivíduos da mesma faixa etária. Segundo os autores, os pacientes com DP apresentaram um significante aumento nos valores do índice CPITN, principalmente no sextante superior-anterior, em comparação com os pacientes do grupo controle, significando que nestes pacientes há uma ocorrência maior de problemas periodontais, provavelmente devido à dificuldade de higienização oral provocada pela rigidez, acinesia e tremor decorrentes da DP.

Baseado na literatura consultada nos parece possível chegar às seguintes conclusões:

* O tratamento odontológico do paciente com doença de Parkinson (DP) deve ser iniciado no momento em que os médicos confirmem o diagnóstico e proporcionar sempre o atendimento de forma interdisciplinar, com uma comunicação efetiva com os demais profissionais envolvidos no tratamento do paciente parkinsoniano para um maior sucesso desde o planejamento e a execução, gerando um tratamento odontológico integrado, que trará, certamente, melhor qualidade de vida aos idosos nesta condição clínica.

* O pico da eficácia da maioria dos medicamentos antiparkinsonianos ocorre entre 60 a 90 minutos de sua administração, por isto o agendamento das consultas odontológicas deve levar este fato em consideração.

* O plano de tratamento odontológico para um paciente com DP deve ser compatível com seu estado físico e sua capacidade cognitiva, bem como da colaboração de seu cuidador, para que se possam obter os resultados clínicos esperados.

* O ambiente físico do consultório deve estar preparado para receber o paciente idoso com doença de Parkinson, assim como o cirurgião-dentista e seu corpo auxiliar, facilitando o acesso e deslocamento, evitando quedas e transtornos a estes indivíduos.

* Utilizar de recursos não verbais de comunicação durante o atendimento, quando o paciente já se apresentar na fase avançada da doença.

Fonte: Medcenter

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Dra. Sheila Rodrigues

Cirurgiã-Dentista

 Itanhaém, SP

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