Dr. Mateus Moreira de Lazari
Ribeirão Preto, SP
MATEUS MOREIRA DE LAZARI
MANIFESTAÇÕES BUCAIS RELACIONADAS COM FATORES DE RISCO NO AMBIENTE DE TRABALHO
CAMPINAS
2009
MATEUS MOREIRA DE LAZARI
MANIFESTAÇÕES BUCAIS RELACIONADAS COM FATORES DE RISCO NO AMBIENTE DE TRABALHO
Monografia apresentada à Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic, como requisito para obtenção de título de Especialista em Odontologia do Trabalho.
Orientador: Professor Rogério Alves de Souza.
CAMPINAS
2009
Apresentação da monografia em: ___/___/______ ao curso de Especialização em Odontologia do Trabalho.
______________________________________
Coordenador
______________________________________
Orientador
Dedico aos meus pais Ernani e Maria Helena pelo o apoio, carinho e respeito de sempre.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela luz que sempre me iluminou pelos caminhos da vida.
Aos meus pais, pela educação, incentivo, amor e carinho.
A Faculdade de Odontologia de Araraquara, pela formação acadêmica e incentivo à pesquisa.
A Faculdade de Odontologia São Leopolpo Mandic.
Aos funcionários da Secretaria do NEAD e da biblioteca da Faculdade de Odontologia São Leopolpo Mandic.
Ao Prof. Urubatan Vieira de Medeiros, coordenador do Curso de Especialização em Odontologia do Trabalho.
Ao Prof. Rogério Alves de Souza, pela orientação, respeito e dedicação.
Aos colegas de Curso, pela troca de informações.
Ao amigo e Prof. Márcio Lisboa, pela revisão ortográfica e incentivo.
Ao amigo e Prof. Ângelo Irineu Paracchini Filho.
A todos meus queridos amigos, pelo incentivo e carinho.
“A amizade é um amor que nunca morre”. (Mario Quintana).
RESUMO
No ambiente de trabalho, nos diversos segmentos industriais e de produção, o trabalhador pode estar exposto a agentes físicos, químicos, mecânicos e biológicos. A cavidade bucal é a porta do sistema digestivo e sua localização propicia o contato com fatores de risco no ambiente de trabalho. O presente trabalho teve como objetivo relacionar os fatores de risco no ambiente de trabalho com manifestações bucais, através de uma revisão de literatura. Diversos agentes causam alterações dentais, cáries, alterações periodontais e alterações da mucosa bucal, destacando-se a exposição a névoas ácidas e ao pó da farinha e do açúcar. A implementação de programas de promoção de saúde bucal dentro dos ambientes de trabalho e o uso de equipamentos de proteção são algumas maneiras de prevenir as manifestações bucais decorrentes de exposições ocupacionais.
Palavras-chave: Saúde bucal; Exposição ocupacional; Saúde do trabalhador.
ABSTRACT
At the working environment in different industrial and production sectors the worker is exposed to physical, chemical, mechanical and biological agents. The buccal cavity is the door to the digestive system and its location in the human body appeases the contact with risk factors in the working environment. This work aims at registering the risk factors in the working environment with buccal manifestations, based on a literature revision. Many agents cause dental changes, caries, periodontal diseases and alterations in the buccal mucosa, specially the exposition to acid mist, to the flour powder and to sugar. The adoption of programs to promote the buccal health in working environments and the use of protection equipment are some of the ways to prevent the buccal manifestations due to the occupation exposing.
Key-words: buccal health; occupation exposing; worker’s health.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Manifestações bucais das doenças ocupacionais
de acordo com o processo patológico. 17
Tabela 2 - Manifestações bucais das doenças ocupacionais
de acordo com a estrutura bucal afetada. 18
Tabela 3 - Manifestações bucais das doenças ocupacionais
de acordo com a ocupação. 19
Tabela 4 - Manifestações bucais das doenças ocupacionais
de acordo com o agente etiológico. 20
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CPOD - Índice de Dentes Cariados, Perdidos e Obturados.
ATM - Articulação Têmporo Mandibular.
CPITN - Índice Comunitário de Necessidade de Tratamento Periodontal.
CPOS - Índice Superfícies cariadas, Perdidas e Obturadas.
EPI - Equipamento de Proteção Individual.
pH - Potencial de Hidrogênio Iônico.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 11
2 PROPOSIÇÃO 15
3 REVISÃO DE LITERATURA 16
3.1 Fatores de riscos ocupacionais 16
3.2 Manifestações bucais relacionadas à exposição a névoas ácidas 26
3.3 Manifestações bucais relacionadas à exposição ao pó do açúcar
e da farinha 34
3.4 Câncer oral e fatores de riscos ocupacionais 37
3.5 Outros fatores de risco relacionados a manifestações bucais 40
4 DISCUSSÃO 47
5 CONCLUSÃO 53
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 54
1 INTRODUÇÃO
A relação entre trabalho e as condições de saúde/doença das populações vem sendo estabelecida desde a Antiguidade. Todavia, o reconhecimento dessa relação nem sempre se constituiu como foco de atenção das sociedades, existindo em determinados períodos históricos a concepção de naturalização do trabalho e de suas consequências para a vida humana. Isto pôde ser observado durante a escravidão e, também, no regime servil, quando interessava às classes dominantes difundir a idéia de que o trabalho era um estigma, um castigo, e que os trabalhadores eram peças naturais, pertencentes à terra, e que sua função no mundo era a dedicação ao trabalho. A constatação dessa relação tornou-se mais evidente na Revolução Industrial, quando os modos de produção tornaram-se ainda mais perversos e inadequados ao bem-estar humano. (Gómez e Costa, 1997 apud Almeida, 2005).
Datam do início do século as primeiras publicações focalizando a associação entre exposições ocupacionais e manifestações do sistema estomatognático. Bernardino Ramazzini (1633-1714), conhecido como o “Pai da Medicina do Trabalho” fez referências as consequências bucais decorrentes de exposições ocupacionais, em seu livro publicado em 1700.(Teles, 2006).
O conhecimento sobre riscos ocupacionais para a saúde bucal do trabalhador é ainda incipiente, e a sua disseminação precária, seja no meio acadêmico, seja entre os profissionais de serviços, mesmo aqueles que trabalham em indústrias, onde exposições ocupacionais são comuns. Isso expressa a falta de integração entre a Odontologia e a saúde pública em geral e, mais especialmente, entre as práticas de saúde bucal e o campo da saúde do trabalhador. Isso implica na necessidade de incorporação dos profissionais de Odontologia nas equipes de saúde e segurança do trabalhador. (Viana, 2001).
É importante também o deslocamento do foco de atenção do profissional de Odontologia, da boca para o indivíduo, e deste para o coletivo, na expressão de sua complexidade social. Em suma, problemas de saúde bucal podem ser causados por fatores ocupacionais, e esse conhecimento necessita de ampla disseminação e incorporação no âmbito das práticas e dos modelos de atenção à saúde bucal. (Viana, 2001).
Sabe-se que, no ambiente do trabalho, o homem está exposto a um conjunto diversificado de agentes que podem causar danos à saúde. Nesse sentido, as condições de trabalho são de importância significativa para as estruturas bucais, podendo ocorrer uma série de patologias em consequência de exposições de natureza ocupacional. (Vianna, 2001).
A preocupação com o ambiente laboral e sua relação com a saúde bucal dos trabalhadores poucas vezes foi eleita como aspecto central nos estudos no Brasil. Por essa razão, existe muito pouca informação que associe os efeitos relativos ao risco ocupacional e a saúde bucal de trabalhadores de países em desenvolvimento. (Teles, 2006).
Já existe um conhecimento acumulado a respeito das repercussões indesejáveis das doenças bucais em relação ao bem-estar dos indivíduos, do comprometimento do seu desempenho profissional e de distúrbios de natureza comportamental. São consequências frequentes o absenteísmo propriamente dito, o chamado absenteísmo de corpo presente, as ausências prolongadas para tratamento odontológico, ou até a ocorrência de acidentes de trabalho determinados pela dificuldade de concentração em função dos problemas já citados. Assim, o campo da saúde bucal do trabalhador tem como objeto a relação entre saúde bucal e trabalho, tratando de promover, preservar e recuperar a saúde bucal de populações inseridas nos diversos processos de trabalho.(Araújo & Marcucci, 2000 apud Teles, 2006).
Destaca-se que a vigilância em saúde do trabalhador deve ser compreendida como eixo fundamental, capaz de consolidar as práticas, na perspectiva da promoção da saúde e prevenção de agravos na perspectiva da relação entre saúde bucal e trabalho, tendo como alicerce a informação para ação. Para isso, é fundamental atuar no sentido de detectar, conhecer, pesquisar, divulgar informação, analisar os fatores determinantes dos problemas de saúde, a fim de subsidiar a tomada de decisão e a intervenção sobre esses fatores, para avaliar o impacto das medidas adotadas.(Teles, 2006).
A boca é a porta de entrada do sistema digestivo e participa também de outras funções, como a respiração e a fonação. Devido a sua localização, é uma zona de absorção, retenção e excreção de substâncias tóxicas que penetram no corpo estando sujeita a agressões de natureza física, química e (ou) mecânica.(Aznar-Longares & Nava, 1988 apud Teles 2006).
Levando esse aspecto em consideração, é pertinente que algumas doenças de ordem geral que afetam os indivíduos se manifestem inicialmente nos tecidos bucais, permitindo que, mediante exame bucal, proceda-se um diagnóstico precoce.(Garrafa, 1986 apud Teles, 2006).
As doenças bucais não se desvinculam das condições gerais de saúde do corpo e não podem ser deixadas de lado quando se discutem as incapacidades que atingem os trabalhadores. Qualquer problema de origem bucal pode provocar desconforto físico e emocional, prejuízos consideráveis à saúde geral, além de diminuir a produtividade do empregado dentro de sua função. (Cortiano, 2006).
Encontram-se na literatura internacional estudos apontando a associação entre exposições ocupacionais e incidência ou prevalência aumentada de agravos à saúde bucal. Dentre estas associações, pode-se citar a relação entre doenças da cavidade bucal e trabalho em indústria de cimento, trabalho em indústria petroquímica e, particularmente, trabalho em indústria alimentícia. (Tomita, 1999).
As lesões na cavidade oral, que ocorrem como resultado direto de uma profissão, são bastante comuns. Os efeitos prejudiciais dos riscos profissionais manifestam-se nos dentes, ossos, tecidos periodontais, língua, lábios e mucosa bucal. Os efeitos dos agentes etiológicos dependem das especificidades químicas, físicas e de natureza bacteriana. (Petersen, 1991).
Na maior parte das empresas, há certa negligência por parte dos trabalhadores no uso de equipamentos de proteção individual, o que faz do sistema estomatognático uma área propensa a doenças e acidentes ocupacionais. (Yaedú, 2005).
Existe a lacuna dos fatores de risco que o profissional está exposto e pode ser classificado como físico, químico, biológico, ergonômico/psicossocial e mecânico de acidente. Da mesma forma que as ocupações, deve-se preencher o período pelo qual o trabalhador esteve exposto aos fatores de risco. (Yaedú, 2005).
2 PROPOSIÇÃO
O presente trabalho consiste em estabelecer uma relação entre as exposições ocupacionais (agentes químicos, físicos, mecânicos, biológicos) no ambiente de trabalho com manifestações bucais (cárie, erosão dental, câncer oral, doença periodontal, lesões de mucosa, entre outras), através de uma revisão de literatura em que os artigos foram selecionados das bases de dados BBO, Scielo e Medline (Pubmed).
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Fatores de riscos ocupacionais.
Schour & Sarnat (1942) realizaram o primeiro trabalho em que relacionava as exposições ocupacionais e manifestações bucais. O propósito do estudo foi analisar e apresentar uma síntese sobre doenças profissionais. Os autores relataram que, a cada mudança na indústria, novas manifestações bucais poderiam surgir. Um exemplo é o da conjuntura pós-guerra. O estoque limitado de suprimentos essenciais para a guerra trouxe a tona materiais e métodos já em desuso na época. Como consequência, doenças ocupacionais previamente eliminadas poderiam reaparecer. Médicos e dentistas não estavam cientes da possibilidade de manifestações bucais ou efetivamente interessados em sua identificação. Foram analisados vários aspectos da doença ocupacional, considerando: a estrutura afetada, o processo patológico, o agente etiológico e a prevalência ocupacional. (ver tabela 1, 2 , 3 e 4). Os autores concluíram que os problemas de manifestações orais de origem ocupacional devem ser considerados de acordo com a doença, estrutura afetada, agentes etiológicos e distribuição ocupacional. Efeitos locais são prontamente reconhecidos em exposições do esmalte, dentina, e dos tecidos moles. As alterações no esmalte e na dentina são frequentemente permanentes e podem revelar exposições ocupacionais passadas. Efeitos sistêmicos podem ser transmitidos para a boca também. A higiene bucal precária torna os trabalhadores mais susceptíveis ao risco ocupacional. As precauções para a saúde da indústria devem incluir a prevenção, o reconhecimento precoce e o tratamento das doenças bucais ocupacionais.
Tabela 1 - Manifestações bucais das doenças ocupacionais, de acordo com o processo patológico.
Processo Patológico
Estrutura
afetada
Agente
Etiológico
Diagnóstico
Uso excessivo
Esmalte e Dentina
Apreensão de instrumentos: prego, linhas, apito.
Abrasão Localizada
Cimento, areia
Abrasão generalizada
Reação Química
Esmalte e Dentina
Ácidos
Descalcificação
Ação Bacteriana, Fermentação.
Esmalte e Dentina
Açúcar
Cárie
Pigmentação
por contato direto(físico)
Esmalte ou mucosa
Metais e Metais com Carbono
Pigmentação do esmalte e da mucosa bucal
Pigmentação
via corrente sanguínea(químico)
Gengiva
Chumbo, mercúrio e bismuto.
Linha da gengiva do sulfito de metais pesados
Lábios e mucosa bucal
Monóxido de carbono
Lábios vermelhos
de cereja (monóxido de carbono e hemoglobina)
Inflamação
Lábios
Baixa umidade, calor frio, trauma, ácido, metais.
Quelite
Mucosa bucal, gengiva.
Calor, frio, trauma, mercúrio, alcalemia, ácido.
Estomatite, gengivite
Ligamento periodontal
Mercúrio e flúor
Periodontite
Osso alveolar, maxila, mandíbula.
Arsênico, mercúrio, fósforo, rádio.
Ostemiolite
Circulação
Gengiva e mucosa bucal.
Benzeno, variação da pressão atmosférica.
Hemorragia
Mucosa bucal e lábios.
Mercúrio, ácido
Ulceração
Degeneração
Osso alveolar, maxila, mandíbula.
Rádio e raio x
Osteonecrose
Glândulas Salivares
Rádio e raio x
Necrose (xerostomia)
Neoplasias
Mucosa Bucal
Café quente, chá, irritação.
Leucoplasia
Lábios
Eletricidade. Exposição ao sol e alcatrão
Leucoplasia e carcinoma de lábio.
Fonte: Schour I, Sarnat B. Oral manifestations of occupational origin. JAMA. 1942; 120(15): 1197-1207.
Tabela 2 - Manifestações bucais das doenças ocupacionais de acordo com a estrutura bucal afetada.
Modo de ação
Estrutura Afetada
Agente Etiológico
Manifestações
Local
Dentes:
-Esmalte e Dentina
Poeira
Pigmentação
Poeira
Abrasão
Apreensão de instrumentos
Abrasão
Ácido
Descalcificação
Açúcar
Cárie
Local e
Sistêmico
Estrutura de Suporte:
-Gengiva
Poeira de componentes com mercúrio
Gengivite
Poeira de metais pesados
Pigmentação
Variação na pressão atmosférica, cálculo, benzeno.
Hemorragia
Medicamentos com mercúrio
Ulceração
-Ligamento periodontal
Medicamentos com mercúrio
Periodontite
Poeira, farinha
Cálculo
-Osso alveolar, maxila e mandíbula.
As – Cr – Hg – P – Ra
Ostemiolite
Flúor
Esclerose
Boca:
-Lábios
Baixa umidade, poeira.
Ressecamento, fissura, quelite, leucoplasia.
Anillina, monóxido de carbono.
Pigmentação dos lábios
Alcatrão
Carcinoma
-Mucosa Bucal
Poeira
Pigmentação
Agentes químicos
Estomatites
-Glândulas
Salivares
Medicamentos com mercúrio
Ulceração, ptialismo
Raio x, rádio
Xerostomia
Aumento da pressão intraoral
Pneumatocele
Fonte: Schour I, Sarnat B. Oral manifestations of occupational origin. JAMA. 1942; 120(15): 1197-1207.
Tabela 3 - Manifestações bucais das doenças ocupacionais de acordo com a ocupação.
Ocupação
Agente Ativo
Manifestação bucal possível
Trabalhadores com pó abrasivo
Poeira
Abrasão generalizada
dos dentes e cálculo
Trabalhadores com ácidos
Fumaça
Descalcificação dos dentes e estomatites
Manipuladores de arsênio
Arsênio
Ostemiolite e necrose
da mandíbula
Aviadores
Variação de pressão atmosférica
Hemorragia na gengiva
Padeiros
Farinha e açúcar
Cárie e cálculo
Confeiteiro
Açúcar
Cárie
Carpinteiro
Prego
Abrasão localizada
nos dentes
Contato com hulha de alcatrão
Alcatrão
Carcinoma
Trabalhadores com criolito
Flúor
Osteoesclerose
Galvanoplastia
Chumbo
Linha de chumbo na gengiva
Trabalhadores com explosivos
Benzeno
Hemorragia na gengiva
Trabalhadores com vestuário
Químico, tintura, corpo estranho a boca.
Estomatites e abrasão dos dentes
Trabalhadores com vidro
Ácido hidrofluorídrico, aumento da pressão intrabucal
Descalcificação pneumatocele, abrasão
Trabalhadores com chumbo
Chumbo
Linha de chumbo na gengiva
Trabalhadores com metais
Poeira (ferro, cobre, cromo).
Pigmentação do esmalte, pigmentação da mucosa bucal
Trabalhadores com mercúrio
Compostos de mercúrio
Gengivite, periodontite, ulceração, ptialismo, ostemiolite
Fotógrafos
Componentes de mercúrio e cromo
Gengivite
Polidor e dinamitador
Poeira
Abrasão e pigmentação
Pedreiro
Poeira
Abrasão e gengivite
Técnico em raio x
Raio x
Xerostomia
Fonte: Schour I, Sarnat B. Oral manifestations of occupational origin. JAMA. 1942; 120(15): 1197-1207.
Tabela 4 - Manifestações bucais das doenças ocupacionais de acordo com o agente etiológico.
Agente Etiológico
Estado Físico
Ação Principal
Fator Específico
Ocupação
Possível Manifestação Bucal
Sólido
Físico
Instrumentos para apreensão
Sapateiros, carpinteiros, sopradores de vidros, músicos (instrumentos de sopro), costureira.
Abrasão localizada
Químico
Alcatrão
Pescador, asfalto, trabalhadores com hulha de alcatrão, paralelepípedo, trabalho com piche, preservador de madeira.
Estomatites e carcinoma de lábio e mucosa.
Poeira
Físico
Inorgânico: cobre, ferro, níquel, cromo, carvão.
Bronzistas, trabalhadores com cimento, galvanoplastia, amoladores (metal), mineiros, cortadores de pedras
Pigmentação dos dentes, pigmentação da gengiva, abrasão, generalizada, cálculo, gengivoestomatite, hemorragia.
Orgânico: osso, celulóide, serragem, flúor e tabaco.
Trabalhadores com osso, celuloide, flúor, serragem, tecido e tabaco.
Pigmentação dos dentes, pigmentação da gengiva, abrasão, generalizada, cálculo, gengivoestomatite, hemorragia.
Químico
Arsênio inorgânico
Trabalhadores químicos, galvanização, refinador de metal, misturadores de borracha, fundidor de chumbo, dedetizadores
Necrose óssea
Bismuto inorgânico
Manipuladores de bismuto, trabalhadores com pólvora.
Pigmentação azul da gengiva e mucosa bucal, gengivoestomatite
Cromo inorgânico
Composto de anilina, cromo, trabalhadores com fotografia e aço, trabalhadores com cópias heliográficas, misturadores de borracha.
Necrose óssea, ulcerações dos tecidos bucais.
Flúor inorgânico
Trabalhadores com criolita
Osteoesclerose
Chumbo inorgânico
Galvanoplastia, inseticida e trabalhadores com carga de baterias, refinadores de chumbo, impressor, componenes de borracha.
Pigmentação azul-preta da gengiva, gengivoestomatite.
Mercúrio inorgânico
Bronzista, trabalhadores com bateria, pintores, dentistas, detonadores, explosivos, trabalhadores com sal de mercúrio.
Gengivoestomatite, osteomielite, ptialismo.
Tabela 4 - Manifestações bucais das doenças ocupacionais de acordo com o agente etiológico.
Agente Etiológico
Estado Físico
Ação Principal
Fator Específico
Ocupação
Possível Manifestação Bucal
Poeira
Químico
Fósforo inorgânico
Fundidor de metal, trabalhadores com bronze, fósforo, fertilizantes, trabalhadores com fogos de artifício
Gengivoestomtite, ulceração dos tecidos bucais, osteomielite.
Açúcar inorgânico
Refinadores, padeiros, confeiteiros
Cárie
Líquido
Físico
Comidas quentes (café, chá, sopa).
Provadores
Estomatite e leucoplasia
Líquido
Químico
Anilina
Anilina, hulha de alcatrão, trabalhadores com explosivos, pintores, trabalhadores de cortume vulcanizadores.
Coloração azul dos lábios e da gengiva.
Benzeno
Forno de coque, laqueadores, lavanderia a seco, vulcanizadores, trabalhadores com fumo em pó
Hemorragia da gengiva, estomatites, coloração azul dos lábios.
Cresol
Hulha de alcatrão, borracha, marujos, destiladores, trabalhadores com curativos cirúrgicos, trabalhadores com desinfetantes.
Estomatites
Vinhos e licores
Provadores
Anestesia e parestesia da língua.
Gás
Físico Atmosfera.
Aumento da pressão
“divers” e “ caisson workers”
Sangramento gengival
Diminuição da pressão
Aviadores
Sangramento gengival
Químico
Ácidos: sulfúrico, nitroso, clorídrico, fluorídrico.
Rolo de filme, ácido, refinaria de petróleo, explosivo, trabalhadores com pólvoras para armas.
Sangramento, estomatites, descalcificação do esmalte e da dentina
Amiloacetato
Álcool, destiladores, explosivos, gomalaca, pó de fumo, trabalhadores em fábrica de sapatos.
Estomatites
“Acrolein”
Trituradores de osso, banha de porco, sabão, trabalhadores com linóleo, caldeira para esmalte
Estomatites
SO2, NH3, BR, Cl2
Acetileno, tinta filme fotográfico, trabalhadores com fosgênio, refinaria de açúcar, fábrica de refrigerantes, desinfetantes, trabalhadores em lavanderias.
Estomatites
Tabela 4 - Manifestações bucais das doenças ocupacionais de acordo com o agente etiológico.
Agente Etiológico
Estado Físico
Ação Principal
Fator Específico
Ocupação
Possível Manifestação Bucal
Gás
Químico
CO, CO2
Mineiros, fundidor, trabalhadores com motores e
Mineiros, fundidor, trabalhadores com motores e gasolina.
Coloração dos lábios (vermelho cereja, azul)
Raio
Físico-químico
Rádio,
raios-X
Técnicos pintores de relógio de sol, pesquisadores.
Gengivite, periodontite, ostemiolite e necrose, xerostomia, esclerose.
Solar
Marinheiros e pescadores
Carcinoma de lábio
Fonte: Schour I, Sarnat B. Oral manifestations of occupational origin. JAMA. 1942; 120(15): 1197-1207.
Nogueira (1972) demonstrou algumas origens de moléstias profissionais, sendo elas doenças causadas por agentes físicos, mecânicos, químicos e biológicos. Salientou a importância do dentista na equipe de saúde ocupacional, devido à vulnerabilidade da cavidade oral, pela sua comunicação com o meio externo. Dentre os agentes mecânicos e seus respectivos efeitos na cavidade oral o autor citou: o processo de soprar vidro provocando desgaste dental; os operários que manejam pregos, e outros objetos, segurando pelos dentes, provocando desgastes e lesões periodontais. Dentre os agentes físicos citou: variação da temperatura podendo aparecer hiperemias na mucosa, necrose e leucoplasias; aumento da pressão atmosférica (mergulhadores), provocando lesões na mucosa e alterações periodontais. Dentre os agentes químicos citou: os vapores ácidos, usados em vários segmentos industriais, provocando alterações nos dentes (erosão); soda cáustica podendo provocar coloração marrom escura nos lábios; cromação de metais por eletroplastia podendo provocar ulcerações tórpidas nos lábios; agentes químicos como prata, cobre, ferro, cromo, cádmio, tintas, podendo corar tanto gengiva quanto dente; produtos de solda podendo provocar gengivo-estomatite bastante acentuada, devido à formação de óxidos de nitrogênio. Também citou as intoxicações com vários agentes químicos que podem provocar sintomas na cavidade oral, como xerostomia, ardência, diminuição da sensação gustativa, entre outros. Dentre os agentes biológicos, várias doenças infecto-contagiosas podem ter manifestações orais, que por sua vez o indivíduo pode ter contato no ambiente de trabalho. Em relação à doença cárie, várias situações de exposição já foram observadas que acentuam a prevalência, como: trabalhadores que manipulam álcalis, que trabalham com farinha ou açúcar, provadores de vinhos, etc. Concluiu-se que existe uma importância na odontologia ocupacional dentro de uma empresa, de modo a prevenir doenças ocupacionais, instruindo os trabalhadores a higiene adequada e ao uso de equipamentos de proteção individual.
Esteves (1982) apresentou uma série de situações nas quais ocorrem manifestações bucais em razão dos agentes químicos, alertando o médico do trabalho para realizar exames minuciosos da cavidade oral. Dentre as situações afirmou que: os agentes químicos podem atingir tanto tecidos moles (mucosa, gengiva) ou tecidos duros (ossos, dentes); o chumbo pode levar o aparecimento da orla de Burton, isto é, pigmentação da mucosa que varia do azul ao acinzentado, mais frequente na região vestibular posterior da maxila e vestibular anterior da mandíbula; através do contato com arsênico podem surgir erosões dentárias, ulcerações bucais e até perdas dentárias, em virtude de necroses nos maxilares; o contato com ácidos e líquidos com pH baixo, pode gerar erosões dentárias; o cádmio pode provocar deposição de coloração amarela ao nível cervical dos dentes; outros agentes químicos podem provocar várias manifestações, como: estomatites, manchas, gengivites, ulcerações, descalcificações e necroses ósseas.
Yaedú (2005) realizou um levantamento epidemiológico das lesões bucais diagnosticadas e tratadas na clínica de Estomatologia da Faculdade de Odontologia de Bauru, no período de janeiro de 1993 até dezembro de 2003, com o intuito de identificar as lesões mais prevalentes e a sua associação com a atividade ocupacional bem como o gênero, biotipo, e idade; e contribuir com as equipes de Serviço Especializado em Engenharia e Segurança e Medicina do Trabalho, na prevenção de doenças bucais e acidentes de trabalho. O estudo foi quantitativo e descritivo, com o intuito de verificar quais são as lesões mais prevalentes em 10 anos de atendimento a população de Bauru e região. Utilizou-se como fonte de dados 3047 prontuários registrados no período citado acima. Foram coletados os dados sobre de cada prontuário sobre o gênero, o biotipo, a idade, a procedência e a profissão. Em relação à procedência 83,28% eram de Bauru, 98,26 do estado de São Paulo. Em relação ao sexo, 59,57% feminino, e 40,43% masculino. Predominou o biotipo branco (76,53%). Com relação à idade observou-se a maior prevalência no grupo de 21 a 40 anos (27%) e de 41 a 60 anos (32%). A associação entre gênero e tipo de lesão, não foi estatisticamente significante. A relação entre biotipo e lesões, destacou-se o grupo de doenças do dente, polpa e periápice, entre o biotipo amarelo. Em relação a associação entre a ocupação e as manifestações bucais, encontraram-se os seguintes resultados: no grupo de doença periodontal, a maior ocorrência em profissionais militares, e trabalhadores de manutenção e reparação. No grupo de doenças do dente, polpa e periápice, os trabalhadores de manutenção e reparação. No grupo de lesões de glândulas salivares, um grande número de militares. No grupo de infecções bacterianas e patologias epiteliais, observa-se mais que o dobro de ocorrência em trabalhadores agropecuários, florestais, de caça e pesca. No grupo de tumores de tecidos moles, observou-se em todas as profissões, acima dos 30%. Nos casos em que não foram encontradas associações de relevância estatística, não se pode afirmar a relação causa-efeito, e sugere mais investigações.
Almeida et al (2005) sistematizaram o achado de pesquisas sobre exposições ocupacionais e seus efeitos na saúde bucal, destacando a importância dos dados epidemiológicos no planejamento de programas de saúde bucal do trabalhador. Exposição a agentes mecânicos como pregos, fios de costura, grampos de cabelo, lápis, são apontados como responsáveis por tipos característicos de desgaste dental. Referiu-se, também, à ocorrência de abrasão dental em trabalhadores expostos a grandes partículas de poeira, e em músicos que utilizam instrumentos de sopro. Entre os agentes físicos predominam as altas temperaturas, as variações de pressão atmosférica e as várias formas de radiação, associadas respectivamente a lesões de mucosa e a doença periodontal; a alterações em restaurações dentárias e a dor intensa; a lesões da mucosa oral, xerostomia, alterações ósseas e cárie de radiação. A cárie dentária encontra-se frequentemente associada às atividades desenvolvidas por trabalhadores expostos a poeiras de açúcar e de farinha, e por aqueles que atuam como provadores de doces ou de bebidas alcoólicas, no caso do vinho, também referido como responsável pela erosão dental. Observou-se nos estudos de revisão e nos empíricos uma predominância dos agentes químicos, orgânicos e inorgânicos, como principais responsáveis por alterações bucais de origem ocupacional, como lesões da mucosa oral, doenças periodontais, alterações salivares e sintomas orais neles referidos, como dor, xerostomia e ardor.
Teles (2006) identificou as alterações bucais associadas a exposições ocupacionais (físicas, mecânicas e químicas), através de uma revisão de literatura. Agentes mecânicos e sólidos podem gerar acidentes de trabalho (fraturas, lesões), além de serem apontados como responsáveis de lesões periodontais, abrasão dental e lesões de mucosa. Agentes físicos (térmicos, acústicos, vibracionais e luminosos), também podem provocar acidentes e doenças. Destacam-se as altas temperaturas, provocando lesões de mucosa oral (hiperemias, necroses, leucoplasias, neoplasias); baixas temperaturas provocando disfunções temporomandibulares; variação de pressão atmosférica acarretando dores de entes intensas e hemorragias; exposição à radiação ionizante provocando lesões de mucosa, doença periodontal severa, xerostomia, alterações ósseas, e cárie de radiação. Em relação à exposição de agentes químicos destaca-se a exposição de ácidos fortes, provocando erosões dentais. A doença periodontal também é uma das patologias provocadas por névoas ácidas. A cárie dentária está associada a atividades em que os trabalhadores estão expostos a poeiras de açúcar e de farinha. As condições do estilo de vida e o estresse já foram associados a alterações bucais. O uso de equipamentos de proteção individual e programas de atenção à saúde bucal dentro das empresas têm melhorado as condições de saúde bucal dos trabalhadores.
3.2 Manifestações bucais relacionadas à exposição a névoas ácidas
Na década de 60, MALCOM & PAUL apud VIANA (2001) constataram que somente trabalhadores expostos a névoas ácidas desenvolveram erosão, especialmente nos dentes incisivos; verificaram a associação positiva entre o grau de erosão e o tempo de serviço, sugestiva de tendência dose-resposta para a concentração do ácido no ar e a erosão dental. Os autores sugeriram a hipótese de que o selamento labial e a saliva agiriam como fatores de proteção.
Ten Bruggen-Cate (1968) apud Viana (2001) realizou um estudo bastante detalhado sobre névoas ácidas, que foi conduzido com 555 trabalhadores expostos e 293 não expostos em várias plantas industriais, na Inglaterra. Os trabalhadores foram examinados quatro vezes, a cada oito meses, ao longo de dois anos de observação. Entre os expostos, a prevalência de erosão no início do estudo foi de 31,7%, não se verificando nenhum caso entre os não expostos. Observaram-se maiores prevalências entre os trabalhadores da manufatura de baterias e os demais expostos ao ácido sulfúrico e hidroclorídrico. Associações positivas entre erosão, concentrações de ácido no ar e o tempo de exposição foram encontradas. A posição dos lábios não influenciou nos resultados e não observou-se indícios de associação entre exposição a névoas ácidas e a cárie dental. Quanto à doença periodontal, observou-se maior prevalência entre os indivíduos expostos. Manchas de esmalte foram observadas em trabalhadores envolvidos com o tratamento de metais.
Tuominen (1989) determinou a prevalência de erosão dental em trabalhadores expostos a névoas de ácidos inorgânicos. 186 trabalhadores foram selecionados de quatro fábricas, sendo duas fábricas de baterias e duas fábricas de galvanização. O ácido sulfúrico foi o ácido em que os trabalhadores eram mais expostos. Entre os 157 participantes dentados, 76 trabalhavam em departamentos que tinha exposição à névoa ácida, e 81 nunca tinham trabalhado em tais condições e foram utilizados como referências. Foi realizado o exame clínico e mensuradas as gravidades das erosões dentais. Dos trabalhadores expostos ao ácido, 18,4% tinham um ou mais dentes com a erosão, e dos trabalhadores selecionados com referências, este valor foi de 8,6%. Dentre os trabalhadores expostos ao ácido, tinham maior prevalência de erosão dental, aqueles com maior tempo de exposição, proporcionalmente. Também, estes trabalhadores tinham uma quantidade maior de erosão dental nos dentes anteriores superiores. O uso de máscaras pelos trabalhadores expostos ao ácido e um sistema de ventilação e exaustão pode ajudar a evitar este tipo de problemas. Os resultados sugerem que ainda hoje a exposição a névoas de ácidos inorgânicos no ambiente de trabalho pode aumentar a erosão dos dentes, especialmente nos dentes superiores anteriores, que não são protegidos pela saliva e pelos lábios.
Petersen (1991) avaliou a saúde oral em trabalhadores de uma fábrica de baterias alemã, descrevendo a prevalência e a severidade da erosão e atrição dentária, relacionando com a exposição a ácidos no ar, no ambiente de trabalho. O grupo de estudo consistia em 61 trabalhadores com média de idade de 46 anos. Um quarto dos trabalhadores trabalhava na fábrica há menos de 10 anos, e três quartos a mais de 11 anos. Durante o processo de produção das baterias, pequenas bolhas de gás são carregadas com o spray de ácido sulfúrico misturadas no ar e a concentração no ar teve uma medida de 0,4 a 4,1g/cm³. Foi aplicado um questionário aos trabalhadores contendo informações sobre a saúde bucal. Também foi observado durante o exame clínico o índice CPOD, as profundidades de bolsas periodontais, erosão, atrição e a presença ou ausência de dor na ATM durante a palpação. Dentre os resultados encontra-se: 55% dos entrevistados iam ao dentista quando criança e 71% iam ao dentista regularmente; 93% dos trabalhadores escovavam os dentes pelo menos duas vezes ao dia e 61% escovavam os dentes duas vezes ao dia de trabalho; 44% relataram terem problemas com seus dentes ou gengivas e a metade relacionou-se com o ambiente de trabalho; o CPOD foi de 25,5; a profundidade de bolsa periodontal foi de 2,1% mais profunda que 5mm; 31% dos trabalhadores apresentaram erosão dentária e 92% dos trabalhadores apresentaram atrição dentária. Os dados contribuem para a hipótese que a exposição aos ácidos, pode provocar erosões e atrições.
Tuominen (1991) investigou se as lesões de mucosa oral, os sintomas subjetivos e a bolsa periodontal eram mais severos em trabalhadores expostos à fumaça de ácidos inorgânicos, comparando com um grupo controle. O grupo experimental consistia em 186 operários de quatro fábricas, sendo duas de baterias e duas de galvanização; e o grupo controle era formado por trabalhadores destas fábricas que não entravam em contato com a fumaça. A média de idade dos trabalhadores expostos era de 38 anos, e dos não expostos era de 39 anos. Os dados coletados foram de idade, tempo de trabalho na empresa. Os trabalhadores também responderam a um questionário indagando a frequência do hábito de fumar, regularidade de visita ao dentista, a frequência de escovação dos dentes, e se havia alguma sintomatologia na mucosa bucal. Os dentistas que realizaram o exame intra-oral, não tinham conhecimento a qual grupo os pacientes pertenciam, caracterizando um estudo simples cego. Foi examinada a mucosa oral dos trabalhadores e foi usado o índice CPITN para análise das condições periodontais. Obtiveram-se os seguintes resultados: os trabalhadores do grupo experimental apresentaram mais bolsa periodontal que o grupo controle, porém não é estatisticamente significante; a presença de bolsa periodontal aumentou com a idade no grupo experimental, com relação ao aumento de bolsa no grupo controle; houve um aumento de bolsa periodontal nos indivíduos com mais tempo exposto às fumaças ácidas, comparando com o grupo controle. Com relação às lesões bucais 23,2% do grupo experimental e 21,6% do grupo controle apresentava lesão. 69,5% dos trabalhadores do grupo experimental e 55,7% do grupo controle tinham pelo menos um dos sintomas investigados. 31,6% dos trabalhadores do grupo experimental apresentaram bolsa de 4 a 5 mm e 28,4% do grupo controle. 5,3% dos trabalhadores do grupo experimental apresentavam bolsa de mais de 6 mm e 2,5% do grupo controle. Dos sintomas investigados, os lábios ressecados foi o mais prevalecente, presente em 50% dos trabalhadores do grupo experimental e 37,5% do grupo controle. Os hábitos de fumo, higiene oral, a regularidade de visitas ao dentista, não tiveram efeito no resultado quanto à presença de bolsas periodontais e lesões de mucosa oral. Concluiu-se que a exposição à fumaça dos ácidos não influenciou na presença de lesões na mucosa oral, mas pode influenciar na prevalência de bolsas periodontais.
Tuominen et al (1991) observaram a prevalência de perda de estrutura dental e trabalhadores expostos a névoas de ácidos orgânicos e inorgânicos. Duas indústrias foram selecionadas, uma com trabalhadores expostos a ácidos orgânicos e outra com trabalhadores expostos com ácidos inorgânicos. Na primeira indústria foram selecionados 129 trabalhadores (68 trabalhadores expostos e 61 de um grupo controle). Na segunda indústria foram selecionados 40 trabalhadores (20 trabalhadores expostos e 20 do grupo controle). Foi realizado um exame clínico e aplicado um questionário sobre hábitos alimentares e pesquisa sócio-demográfica. A porcentagem de trabalhadores expostos ao ácido inorgânico com perda estrutura dental foi de 63,2%, enquanto que para o grupo controle foi de 37,7%. Os valores correspondentes aos trabalhadores expostos ao ácido orgânico foram 50,0% e 14,3% respectivamente. Em ambas as empresas tinham significativamente trabalhadores expostos aos ácidos com maior freqüência de perda de estrutura dental no maxilar, do que nos grupos controle. Em ambas as empresas, tanto os dentes anteriores quanto os dentes posteriores dos trabalhadores foram afetados. Concluiu-se que a exposição aos ácidos orgânicos e inorgânicos tem forte associação à perda da estrutura dental (erosão). O autor salienta a importância do uso de máscaras para a proteção individual.
CHIKTE et al (1998) apud FERREIRA (2006) realizaram uma avaliação epidemiológica ocupacional perto da cidade de Johannesburg, África do Sul. Os 150 trabalhadores de uma empresa de fundição de metal que foram demitidos, apenas 58 resolveram participar desta pesquisa descritiva que usou questionários sócio-demográficos e exames clínicos. Eles eram todos do gênero masculino, tinham uma média de idade de 37 anos, todos já tinham sido expostos a névoas de ácido sulfúrico durante o processo de eletrogalvanização. Dois-terços dos participantes reclamaram dor e sensibilidade nos dentes. Mais de um terço dos participantes informaram ter dificuldade para se alimentar. Treze dos participantes relataram que haviam perdido os dentes desde que começaram a trabalhar para a empresa, e que a razão das extrações estava relacionada com a exposição ao meio ácido. Visto que a prevalência e a severidade de erosão dental por ocupação eram de cinco vezes mais de erosão severa nos trabalhadores expostos ao ácido comparado com as outras categorias de trabalhadores da empresa. A associação foi positiva com a ocupação de maior nível de exposição.
Viana (2001) realizou uma revisão da literatura sobre a relação da exposição a névoas acidas e as manifestações bucais. Através da análise dos artigos o autor pode concluir que névoas ácidas causam perda mineral e que estas lesões atingem principalmente os dentes anteriores, embora sejam observadas em dentes posteriores. Também verifica que a exposição a névoas ácidas esta associada a alterações periodontais, devido a sua ação irritante aos tecidos, e ao aparecimento de lesões na mucosa oral e sintomas subjetivos, como ardor, dor, secura e gosto metálico.
Amin et al (2001) investigaram a prevalência e a natureza dos problemas da saúde bucal entre os trabalhadores expostos a névoas ácidas em duas indústrias na Jordânia, comparando as condições gerais e a saúde bucal entre os trabalhadores expostos a névoas ácidas e um grupo controle. A amostra foi constituída de 68 indivíduos a partir da indústria de fosfato, sendo 37 trabalhadores expostos e 31 do grupo controle. Na fábrica de baterias foram selecionados 39 indivíduos, sendo 24 trabalhadores expostos e 15 do grupo controle. A média de idade na primeira indústria foi de 37,9 anos, e na segunda indústria foi de 41,6 anos. Foram aplicados questionários aos indivíduos sobre suas histórias médica e dental. Foram realizados exames clínicos para avaliar a erosão dentária, higiene oral, saúde gengival, utilizando os índices apropriados. A diferença nas medições entre a erosão ácida de trabalhadores em ambas as indústrias e os seus grupos controle foram altamente significativas (P <0,05). Em ambos os setores, trabalhadores com ácidos mostraram significativamente maior pontuação em relação à higiene bucal, e índice gengival com medição maior do que os seus controles (P <0,05). A queixa mais comum era dente com hipersensibilidade (80%), seguido de boca seca (77%) em média. A exposição a névoas ácidas no local de trabalho foi significativamente associada à erosão dentária e agravando o estado da saúde oral. Essa exposição foi também prejudicial para a saúde em geral. Os resultados apontaram para a necessidade de estabelecimento de educação adequada, de prevenção e de tratamento, combinado com medidas eficazes de vigilância e monitorização do ambiente para a detecção de névoas ácidas na atmosfera do local de trabalho. Também observou-se a importância ao uso de equipamentos de proteção, e adequada ventilação no ambiente.
ALMEIDA (2008) verificou a associação entre a exposição ocupacional a nevoas ácidas e a perda de inserção periodontal. Foram examinados todos os trabalhadores ativos, masculinos, de uma indústria de transformação de metal no Brasil, onde o acido sulfúrico é muito usado no processo de produção. Desde 1999, esta indústria oferece aos funcionários uma assistência em saúde ocupacional. O período do estudo foi de 2000 a 2003, ou seja, um funcionário que tinha pelo menos um exame oral incluído neste programa da promoção de saúde. Foram verificadas todas as alterações periodontais. A exposição foi avaliada utilizando três variáveis: história da exposição, experiência de exposição, e duração da exposição. Foram selecionados 530 trabalhadores para a análise do estudo. A prevalência de perda de inserção periodontal foi estimada em 25,3% no total da amostra. Dos trabalhadores que nunca tinham sido expostos a névoas ácidas, 26,4% apresentavam perda de inserção, semelhante aos que não são expostos (24,5%). Os resultados deste estudo sugerem que os indivíduos expostos a ácidos inorgânicos têm um aumento da prevalência de perda de inserção periodontal. São consistentes com outros resultados que indicam uma associação positiva entre a exposição ocupacional aos ácidos e sintomas de doenças periodontais.
3.3 Manifestações bucais relacionadas à exposição ao pó do açúcar e da farinha
Petersen (1983) avaliou o comportamento em saúde bucal e a auto-avaliação da saúde bucal em trabalhadores da indústria de chocolates na Dinamarca. Foram examinados e entrevistados 59 trabalhadores, sendo 25% trabalhavam a menos de um ano, 25% trabalhavam entre um e três anos, e 50% trabalhavam a mais de quatro anos. Foi aplicado um questionário contendo informações sobre o comportamento em relação à saúde bucal. Foram avaliadas condições periodontais e presença de cárie. Quanto ao comportamento em saúde bucal, 71% relataram fazer visitas ao dentista uma vez ao ano, 86% escovam os dentes duas vezes ao dia e 7% escovam os dentes diariamente no trabalho. 25% dos entrevistados relataram que acreditam estar em um bom estado de saúde bucal e mais de 60% relataram que seus dentes e gengiva estão em mau estado de saúde. 39% dos entrevistados relataram que grande parte dos transtornos em suas vidas foi de origem dentária ou gengival e este relato foi mais evidente em pessoas acima de 40 anos. As principais queixas foram falta de ar, gosto ruim, coceira no nariz, garganta seca, dor de dente, dor na gengiva, etc. Através do exame oral observou-se que a cárie dental apresentava-se com maior frequência na superfície vestibular dos dentes incisivos, todas as pessoas, com dente, apresentavam gengivite e os indivíduos que relatavam mal estado de saúde bucal apresentavam mais cáries e com bolsas periodontais mais profundas. Foi comparados o resultado da pesquisa com trabalhadores de um estaleiro e observou-se que os trabalhadores da fábrica de chocolates mostravam duas vezes mais cáries dentárias não tratadas, uma diferença de 2,6 no CPOD, e três vezes mais pessoas edêntulas com mais de quatro anos na fábrica. Concluiu-se que o alto índice de cárie e saúde periodontal precária é decorrente do hábito de higienização deficiente, aliado à alta concentração de poeira do açúcar que ultrapassa de 3 a 40 vezes o recomendado pela higiene industrial.
Masalin (1990) investigou a relação da exposição da poeira do açúcar, em uma indústria de confeitaria finlandesa, com a saúde bucal dos trabalhadores. Foram selecionados 298 empregados para o estudo, entre os que entravam ou não em contato com o açúcar. Todos foram investigados clinicamente e por meio de análises químicas e microbiológicas; foram utilizados os índices CPOS e o CPITN; também foi aplicado um questionário sobre a dieta diária dos trabalhadores. Foi medida a quantidade de S. mutans, Lactobacilus e Cândida Albicans e o pH, na saliva. A média de idade dos funcionários era de 42,2 anos; a média total do tempo de trabalho na linha de produção foi de 10 anos. Indivíduos contidos na linha de produção de biscoitos tinham CPOS maior que indivíduos de outros grupos. Altos níveis de Lactobacilus e S. mutans foram encontrados em todos subgrupos. A necessidade de tratamento periodontal é maior em indivíduos com maior idade. Os resultados podem ter sido influenciados por outros fatores e não mostram uma relação direta com a exposição e ao alto índice de cáries, mais estudos precisam ser realizados.
Masalin (1994) observou a experiência de cárie e características salivares em padeiros e confeiteiros; comparou os hábitos alimentares entre os trabalhadores; determinou formas adequadas de promoção de saúde bucal nos locais de trabalho e identificou fatores de risco. Os fatores de riscos no ambiente de trabalho podem contribuir para a má saúde bucal em muitas profissões. Entre as ocupações mencionadas são as de padeiro e confeiteiro. Foram selecionados 700 trabalhadores de uma indústria de confeitaria e 1440 trabalhadores de um estaleiro. Participaram da pesquisa 338 trabalhadores da confeitaria, que os resultados foram comparados com 101 trabalhadores do estaleiro. Estes grupos foram comparados por razão dos trabalhadores confeiteiros terem contato com o açúcar na linha de produção. Foram analisados dados sobre a experiência de cárie, comportamentos alimentares e achados salivares e microbiológicos. O risco a cárie e os achados salivares foram comparados e relacionados com a variável sexo, alimentação, utilização de serviços odontológicos, e condições do ambiente de trabalho. A experiência de cárie foi encontrada em números elevados em ambas populações. Hábitos alimentares foram o fator mais importante da ocorrência e susceptibilidade de cárie. Comportamentos de dieta semelhantes foram encontrados em ambos os grupos. A indústria de confeitaria não parece ser um meio extremamente perigoso para a saúde bucal em geral, no entanto, o rastreio dos trabalhadores de alto risco deve ser observado. Reembolso das despesas não teve grande influência sobre a utilização de serviços ou de risco de cárie. Promoção da saúde oral deve ser integrada com os serviços de saúde ocupacional existentes para melhorar a saúde bucal na população industrial.
Tomita et al (1999) investigaram a prevalência de cárie e doença periodontal e trabalhadores de uma indústria alimentícia no estado de São Paulo. Foram selecionados 156 trabalhadores, sendo 102 da linha de produção expostos constantemente a partículas de farinha e açúcar; e 54 funcionários não expostos (grupo de controle), formados por funcionários que não trabalham na linha de produção. Utilizaram-se os índices CPOD (cárie) e CPITN (doença periodontal) para o levantamento epidemiológico. Também foi aplicado um questionário aos funcionários relativo a questões sócio econômicas. Verificou-se uma semelhança no padrão de história de cárie de ambos os grupos, sendo CPOD do grupo de estudo 15,73 e do grupo controle de 15,53. Houve uma diferença significativa do CPOD em relação a variável idade; em relação a outras variáveis (sexo, renda, escolaridade, etc). Observaram-se diferenças entre o grupo de estudo e ao grupo controle em relação à doença periodontal. Presença de cálculo de 17% e 44% respectivamente. Bolsas profundas de 60% e 44,4% respectivamente e bolsas médias de 23% e 11% respectivamente. Concluiu-se que o CPOD entre os trabalhadores expostos e não expostos não diferiu significamente; e em relação a doença periodontal, no grupo não exposto predominaram cálculo e bolsas médias, e no grupo não exposto predominaram bolsas médias e profundas; isto é, diferiu significamente entre os grupos estudados.
3.4 Câncer oral e fatores de riscos ocupacionais
Orregia et al (1989) associaram o risco do câncer com a ocupação através de uma relação caso-controle. Todos os casos de carcinoma epidermóide, histologicamente comprovado, na cavidade oral, laringe e faringe na Clínica de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas (Uruguai) no período de 1985-86 foram incluídos no estudo. Os controles foram selecionados entre enfermos tratados no hospital, com outras afecções. Reuniram-se 242 casos e 322 controles. Os indivíduos foram submetidos a um questionário incluindo informações sobre consumo de álcool, tabaco, mate, etc. E também relacionou a ocupação em que cada indivíduo exerceu por mais tempo. 54,1% correspondiam à neoplasma de laringe; 16,5% carcinomas de boca e 29,4% de faringe. Os trabalhadores com alta prevalência de câncer oral e faringe eram os açougueiros, massons, motoristas, eletricistas e ferroviários. No que diz respeito ao câncer da laringe, mecânicos, canalizadores, agricultores, trabalhadores têxteis e de condutores apresentaram a maior prevalência. Muitos destes casos estão associados ao maior consumo de tabaco e álcool, por estes profissionais; e a exposição à luz solar. Também tem a relação da fumaça que motoristas, ferroviários e mecânicos estão expostos.
Merletti et al (1991) investigaram os fatores de risco ocupacionais, em Turim, na Itália. Foram selecionados 86 indivíduos, para a base do estudo que tiveram câncer oral ou na orofaringe, e 373 indivíduos como referências, relacionando com a ocupação. Também foram analisadas as exposições com 16 substâncias químicas diferentes. Entre as atividades e indústrias com maior risco eram operadores de máquina, encanadores, indústrias da construção civil, indústrias têxteis e a produção de eletricidade. Todas as estimativas foram ajustadas para a idade, educação, região de nascimento, uso de tabaco e álcool. Uma associação entre a exposição ao formaldeído e câncer oral foi sugerido. Nenhum outro produto químico incluído na pesquisa revelou qualquer risco.
Andreotti et al (2006) relacionou a incidência do câncer na cavidade bucal e orofaringe e os fatores de risco ocupacionais. Os casos do estudo foram rastreados e entrevistados em sete hospitais da cidade de São Paulo, com pacientes residentes por no mínimo seis meses na região, com diagnósticos recentes, no período de 1º de janeiro de 1999 a 31 de dezembro de 2001. O recrutamento de controles realizou-se entre 1º de fevereiro de 1999 a 31 de março de 2002, nos mesmos hospitais de origem dos casos. Foram identificados para a entrevista 1037 indivíduos, 509 casos e 528 controles. Casos e controles que preenchiam os critérios de inclusão eram abordados no hospital e entrevistados durante os procedimentos de investigação clínica para confirmação diagnóstica. A coleta de dados consistia em três partes: questionário sobre hábitos de vida, questionário ocupacional geral e questionário ocupacional especializados. Os riscos de câncer da cavidade bucal e orofaringe foram estimados comparando-se indivíduos que estiveram alguma vez empregados em um ramo de atividade com aqueles que nunca trabalharam naquele segmento ocupacional. A média de idade dos casos foi de 55 anos e dos controles 56,3 anos, a maioria de cor branca. Fumantes e consumidores de bebidas alcoólicas apresentaram risco elevado, comparado com indivíduos que nunca fumaram ou beberam. O emprego em oficinas mecânicas revelou risco de câncer da cavidade bucal e orofaringe e aumentou naqueles com mais de dez anos na atividade. Os indivíduos com atividade nos setores de mineração, manufatura de artigos de madeira, indústria de papel e papelão, indústria química, setores do comércio atacadista e varejista, de hotelaria e restaurante, de intermediação financeira, da educação e de serviços de saúde e sociais, particularmente para aqueles com longa exposição, também apresentaram excesso de risco, porém mais discretos e não estatisticamente significativos. A principal evidência constatada, de que o emprego em oficinas mecânicas e a ocupação de mecânico de automóveis representam risco para câncer da cavidade bucal e orofaringe é inusitada. Porém, os mecânicos de veículos estão expostos habitualmente a agentes químicos e a maioria são considerados carcinogênicos. Em outras ocupações foram encontrados casos, mas têm-se a necessidade de estudos mais detalhados quanto à exposição e a incidência de casos de câncer bucal e orofaringe.
3.5 Outros fatores de risco relacionados a manifestações bucais
Sagara (1954) apud Kaskela (2007), realizou um estudo sobre manifestações bucais em trabalhadores que manipulavam chumbo. O pesquisador detectou a presença da linha de Burton em 51% dos casos examinados. Os resultados do estudo não demonstraram correlação entre a afecção da gengiva e a linha, nem diferenças entre condições dentárias desses trabalhadores quando relacionados a outros não expostos ao chumbo. O estudo teve como conclusão que a linha de Burton surge em indivíduos expostos à ação do chumbo por longo tempo.
Birman (1979) apud Kaskela (2007) relatou as manifestações estomatológicas ocasionadas pela intoxicação por chumbo. Segundo o pesquisador, intoxicação por chumbo, por si, não produz lesões na pele, porém, na mucosa gengival a presença de uma linha ou orla azulada é evidenciada em pacientes intoxicados. Os dentes podem ser afetados durante o seu desenvolvimento pelo chumbo, pois este metal se deposita na estrutura dentária. O chumbo tem sido responsável por alterações glandulares como a tumefação ou aumento glandular e sialorréia. O autor finaliza aconselhando que com o conhecimento das alterações bucais que podem ser causadas pela intoxicação por chumbo, o cirurgião dentista deve avaliar os danos reais, realizar diagnósticos diferenciais com outras entidades e promover condições para melhor saúde bucal dos pacientes intoxicados.
Shiot et al (1980) apud Yaedú (2005) propuseram em seu trabalho relatar as lesões bucais encontradas em sopradores de vidro. Na literatura podem-se destacar lesões de lábios e vermelhidão de lábio, descolorações da mucosa, leucoplasias, mudanças verrucosas, pigmentações dentárias, fratura e abrasão. A população examinada constitui-se de sopradores de vidro da Holmegaar´s Glassworks (Denmark). A amostra consistiu de 78 empregados, que foram divididos em 3 grupos sendo o grupo q os trabalhadores que eram sopradores de vidro e desempenhavam essa função nas últimas quatro semanas antes do exame; o grupo 2 também eram sopradores de vidro, porém aqueles que não estavam soprando vidro nas ultimas quatro semanas e o grupo 3 eram os empregados que nunca haviam soprado vidro, mas trabalhavam na mesma empresa. O estudo consistiu em duas etapas, a primeira composta por uma entrevista realizada por um dos autores. A outra etapa consistiu no exame do paciente pelos outros dois autores que não sabiam a que grupos as pessoas pertenciam. Houve diferença entre o grupo 1 e o grupo 2, porem não houve diferença entre os grupos 2 e 3. Entre os trabalhadores do grupo 1, encontrou-se 10 casos de lesão branca da mucosa bucal que descamava parcialmente e não foi achada em nenhuma dos demais grupos. cinco casos eram bilaterais e estavam associados a saliência da bochecha ser simétrica e os outros cinco casos unilaterais estavam relacionados com a saliência da bochecha assimétrica. Duas pessoas com estas lesões brancas apresentavam sintomatologia e duas outras foram aconselhadas a permanecerem ausentes de sua atividade por uma semana melhorando o quadro clínico das lesões após esse período.
Petersen et al. (1988) avaliaram a situação da saúde oral dos trabalhadores de uma indústria dinamarquesa de granito, e em especial, descrever a prevalência e a gravidade da abrasão dental. As medições do ambiente de trabalho mostraram que os trabalhadores estavam expostos a poeira abrasiva quartzo. Um total de 39 trabalhadores (72% dos trabalhadores da indústria), com média de idade de 55 anos; e 25 dos trabalhadores trabalhavam a mais de 10 anos na indústria. Os trabalhadores preencheram um questionário sobre a sua saúde dental, ambiente de trabalho, e os sintomas relacionados ao sistema mastigatório. Foi examinado durante o exame clínico a presença de cárie, condições periodontais e presença de abrasão dental. Apenas 10% tinham sido tratados pelos serviços dentários de escola, e apenas 51% faziam visitas regulares ao dentista. 70% dos trabalhadores diziam escovar os dentes duas vezes ao dia e 5% diziam escovar os dentes no ambiente de trabalho. O exame clínico revelou uma alta prevalência de cárie dentária (CPOS de 87,2). As condições periodontais eram pobres, a média percentual de dentes com gengivite foi de 6,8%, presença de cálculo de 31,5% e de bolsas mais profundas do que 5 mm foi de13,4%. A prevalência de abrasão dental foi de 100%; em particular, a abrasão foi observada em número maior nos dentes anteriores. Observou-se, também, que trabalhadores há mais de 10 anos, tinham uma severidade maior da abrasão dental, relacionando ao maior tempo de exposição à poeira. Os autores concluíram que trabalhadores da indústria de granito, expostos ao pó de quartzo, e profissionais com ocupações similares, têm uma má condição de saúde bucal, e em particular uma alta prevalência de abrasão dental e recomenda a escovação no ambiente de trabalho e ao uso de equipamentos de proteção da face.
Holland et al (1994) avaliou a saúde bucal de trabalhadores expostos ao vapor de mercúrio em uma fábrica de cloretos alcalinos. São poucos estudos que comprovam alguma relação entre as manifestações orais diante a exposição ao vapor de mercúrio, mas já foram relatados agravos de doença periodontal. Comparou-se neste estudo resultados relativos à saúde bucal de trabalhadores expostos ao mercúrio, com resultados de outras referências. Foram examinados 73 trabalhadores anteriormente expostos ao mercúrio e 51 indivíduos como referência. 59% dos trabalhadores tiveram, pelo menos uma vez durante o tempo de exposição, um aumento da concentração de mercúrio na urina. No exame clínico foram examinadas a condição dos dentes, restaurações, condições periodontais, próteses, mucosa bucal e higiene oral. Foram analisadas de uma maneira mais minuciosa as restaurações de amálgama, devido à presença de mercúrio na sua composição. Também foram realizados exames radiográficos e recolhidas informações sobre tratamentos odontológicos anteriores. Não houve diferença significativa entre trabalhadores expostos e as referências, no que se diz respeito ao sabor metálico, xerostomia, lesões de mucosa e nem ao número de dentes remanescentes. O índice CPITN também não obteve diferença significativa estatisticamente. A higiene oral foi melhor entre os trabalhadores expostos em relação à referência; isso provavelmente ocorreu devido à instrução de higiene oral dentro das instalações da fábrica e ao uso de equipamentos de proteção individual. Apenas quatro trabalhadores examinados apresentaram dentes amolecidos, mas outra circunstância, como a higiene oral, influenciou no resultado. Os resultados presentes contradizem relatórios anteriores alegando a perda do dente como resultado de uma possível exposição a vapor de mercúrio.
Linden et al (1996) investigaram a relação entre o estresse ocupacional e a progressão da doença periodontal numa população de adultos. De um primeiro grupo de 132 indivíduos voluntários matriculados no estudo longitudinal examinados entre 1986 e 1987, 23 indivíduos, foram examinados pela segunda vez em um intervalo de 5,5 anos. A média de idade no 2 ºexame foi de 41,1 anos. Foram realizadas medições de bolsas periodontais nos quatro quadrantes, verificação da presença de placa e cálculo; e um questionário sobre estresse ocupacional foi aplicado nos dois exames. A média de mudança do tamanho da bolsa periodontal foi 0,63 mm e 9,6 % dos sítios medidos em ambos os exames teve uma perda maior de 3 mm de bolsa periodontal. Foi analisada a relação entre o aumento de bolsa periodontal e medidas de estresse ocupacional e dados sócio-econômicos. Verificando, houve um aumento na média dos tamanhos de bolsa periodontal proporcionalmente por um aumento da idade, estatuto sócio-econômico mais baixo e nível de satisfação baixo no trabalho. Os resultados sugerem que o estresse ocupacional pode ter uma relação com a progressão da periodontite.
Lie et al (1998) apud Yaedú (2006) propôs avaliar a condição de saúde bucal de empregados em uma grande fábrica de alumínio na área rural da Noruega, relatar a experiência bucal previa dos empregados e sua apresentação das condições de saúde bucal calculando a necessidade de tratamento periodontal e excluindo possíveis efeitos danosos nos dentes pela produção de métodos eletrolíticos na fábrica. A amostra consistiu de homens, sendo 850 trabalhadores e 345 administradores. Os empregados foram divididos em 5 grupos de idade e a amostra padronizada foi feita através de uma lista de funcionários da empresa. Os indivíduos edêntulos foram convidados a participar da entrevista do estudo. O exame clínico consistiu da avaliação da placa, profundidade da bolsa, sangramento, fatores de retenção e pêra marginal óssea em pré-molar e molar. Foram avaliados 181 indivíduos. Para avaliação da placa corada, encontraram-se 80% dos indivíduos dentados com a placa supragengival corada. O total de placa corada aumentou com a idade, porem não houve diferença estatística para a idade e tipo de trabalho. No índice de retenção 31,4% da superfície lateral dos dentes e 8,6% de todos os dentes receberam escore zero. A média de sangramento foi de 55,3%, os trabalhadores (57,9%) apresentaram estatisticamente mais sangramento que os administradores (49,9%). Quanto à sondagem 21,8% das superfícies sondadas e 46,9% dos dentes sondados tinham profundidade à sondagem maior que 4 mm. (...). Com relação ao tipo de trabalho, a diferença estatística foi apenas com relação aos dentes não havendo diferença quanto as superfícies (trabalhadores 22,5% superfície e 49% de dentes; administradores 20,4% superfície e 42,6% dente). O aumento da perda óssea foi compatível com o aumento da idade e demonstrou diferença estatisticamente significante. Entretanto, nenhuma diferença foi observada quanto ao trabalho.
Wiktorsson et al (1999) documentou a prevalência e a severidade da erosão dental em provadores de vinhos e relacionou com o número de anos trabalhando como provador de vinho, a taxa de fluxo salivar e a capacidade tampão. Um wine taster, como são chamados os provadores de vinho, experimenta de 20 a 50 vinhos diferentes, quase cinco dias por semana. A medida do pH dos vinhos varia de 3,0 a 3,6; assim, existe um potencial de risco à erosão dental. Foram selecionados 19 wine tasters (7 mulheres e 12 homens, com idades compreendidas entre 29 a 64 anos). No exame intraoral, foi registrado as superfícies com perda de estrutura dental e documentado por fotografia. A taxa de fluxo salivar e capacidade tampão da saliva foram medidas e registradas. Dados sobre história médica, frequência de visitas ao dentista, hábitos alimentares, e hábitos de higiene também foram recolhidos. Quatorze indivíduos tinham dentes com erosão dental, e a severidade variou de leve a extrema, principalmente sobre as superfícies de incisivos e caninos superiores. A severidade da erosão tende a aumentar com anos de exposição ocupacional. A presença de cáries em atividade em todos os indivíduos foi relativamente baixa. Quatorze indivíduos tinham baixas taxas de fluxo salivar. Concluiu-se que os wine tasters são indivíduos com um alto risco a presença de erosão dental e que a severidade aumenta conforme o tempo de exposição.
Cortiano et al (2006) investigaram os problemas bucais capazes afetar os trabalhadores expostos a agentes químicos e detalhar as manifestações bucais causadas por estes agentes. Foram selecionadas duas indústrias (A e B). A indústria A apresentava todos os equipamentos de proteção coletiva e seus funcionários usavam EPI. A indústria B não apresentava todos os equipamentos de proteção coletiva, mas seus funcionários também usavam EPI. Dentro de cada indústria foram selecionados 15 funcionários (A1 e B1) que tinham contato direto com o processo galvânico e 15 funcionários (A2 e B2) que não exerciam função direta na galvanização. Foram realizados exames clínicos nos quatro grupos, a fim de avaliar a saúde bucal. Na indústria A, 83,2% relataram nada sentir; 3,3% relataram ardência na língua; 3,3% citaram secura em mucosa jugal; e 10% informaram sentir algum tipo de dor. Já na indústria B os sinais e sintomas encontrados foram os seguintes: 80% relataram nada sentir; 3,3 % citaram secura em mucosa jugal; e 6,6 % afirmaram ter algum tipo de dor. Quanto às alterações dentais, nada foi encontrado nos grupos estudados. A indústria B pode ter apresentado um percentual maior de sintomas por causa da ausência de algumas medidas de proteção coletiva. Concluiu-se que, existe a necessidade da utilização de medidas de proteção individual e coletiva nas indústrias galvânicas, para a manutenção da saúde bucal e sistêmica dos trabalhadores; e a sintomatologia e as alterações sistêmicas apresentaram maior índice do que as alterações bucais.
4 DISCUSSÃO
Segundo a proposição, este estudo relaciona os fatores de risco no ambiente de trabalho com manifestações bucais.
Shour & Sarnat (1942) realizaram o primeiro trabalho que relacionava às exposições ocupacionais com as manifestações bucais nos trabalhadores de diversas áreas de atuação e vários trabalhos posteriores foram baseados neste estudo. Os autores relacionaram atividades que atualmente tem outras denominações ou não existem. Os principais agentes etiológicos causadores de manifestações bucais de doenças ocupacionais relatados são físicos e químicos, com modo de ação tanto local, como sistêmico. Desde a década de 40, os autores já observaram a importância de um programa de assistência de saúde bucal dos trabalhadores a fim de evitar que tais manifestações possam aparecer.
Assim como Shour & Sarnat (1942), os autores Nogueira (1972), Esteves (1982), Almeida et al (2005), Yaedú (2005), e Teles (2006), também relacionaram os fatores de risco nos ambientes de trabalho com as manifestações bucais.
Sistematizando os achados mais citados pelos autores, segue as manifestações bucais e os fatores de risco segundo os agentes etiológicos.
Dentre os agentes mecânicos pode-se citar: o processo de soprar vidros provocando desgaste dental; os trabalhadores que manejam objetos pela boca e músicos de instrumentos de sopro provocando também desgaste dental e lesões periodontais; trabalhadores expostos a grandes partículas de poeira provocando abrasão dental, além de acidentes de trabalho com objetos sólidos provocando fraturas e lesões de mucosa.
Dentre os agentes químicos pode-se citar: névoas ácidas, provocando erosão dental e alterações periodontais; contato com metais, provocando pigmentações, necroses, ulcerações, alterações de mucosa e de periodonto; intoxicações provocando xerostomia, ardência, etc. Também a cárie e o cálculo dental está associado a atividades em que os trabalhadores estão expostos à poeira do açúcar e da farinha.
Dentre os agentes físicos mais citados: a variação de temperatura, provocando hiperemias na mucosa; aumento de pressão atmosférica, provocando lesões de mucosa e alterações periodontais; e vários tipos de radiação, provocando necroses, lesões de mucosa e doença periodontal.
Dentre os agentes biológicos, várias doenças infecto contagiosas podem ter manifestações bucais, no qual os trabalhadores entram em contato com o agente etiológico no ambiente de trabalho.
Esses autores também relatam algumas considerações. Nogueira (1972) salientou a importância de programas de saúde bucal dentro das empresas. Almeida (2005) salientou a importância da epidemiologia como papel importante na coleta de dados dentro de um ambiente de trabalho, possibilitando uma análise e facilitando a realização de programas de saúde bucal. Teles (2005) também salienta o uso de equipamentos de proteção individual para a prevenção de tais manifestações bucais. Yaedú (2005) realizou apenas um levantamento epiemiológico, mas não deu ênfase para alguma ocupação relacionando com uma determinada manifestação bucal.
Entre os estudos mais específicos, Malcom & Paul (1960), Ten Bruggen-Cate (1968), Tuominen (1991), Tuominem et al (1991), Chikte et al (1998), Viana (2001), Amin et al (2001) e Almeida (2008), estudaram sobre as exposições ocupacionais às nevoas ácidas e suas manifestações bucais.
As principais indústrias em que ocorrem névoas ácidas são as de baterias e transformação de metais, e o ácido mais usado é o ácido sulfúrico.
A associação das exposições às névoas ácidas e a prevalência de erosão dental é quase unânime entre estes estudos. Na maioria dos casos, as erosões acometem os dentes superiores anteriores. Também se observa em alguns estudos a associação das exposições às névoas ácidas com a perda de inserção periodontal. Nas duas condições, há uma relação entre o tempo de exposição, as condições de higiene oral e ao uso de EPIs, com o grau de acometimento destas manifestações.
Viana (2005) ainda salienta a importância da educação de programas de saúde bucal dentro deste tipo de indústrias, devido ao alto risco deste tipo de exposição.
Petersen (1983), Masalin (1990), Masalin (1994) e Tomita et al (1995) estudaram a associação entre fatores de risco em industrias alimentícias com a prevalência de cárie e doença periodontal.
Observou-se que os estudos sugerem uma provável relação entre a exposição do pó de açúcar com a prevalência de cárie, mas vários fatores influenciam na relação; como a higienização, o uso de equipamentos de proteção individual, a concentração de poeira no ambiente, o comportamento alimentar, idade, características salivares e fatores sócio-econômicos.
Da mesma forma a prevalência de doença periodontal acomete trabalhadores expostos ao pó do açúcar e da farinha. Há uma hipótese em que o contato com o pó da farinha facilita a formação do cálculo dental.
Masalin (1994) afirma a necessidade de programas de promoção de saúde bucal dentro destas indústrias e uma maior regularidade de visitas ao cirurgião-dentista desta população.
Mais estudos com uma população maior e menos heterogênea precisam ser realizados neste sentido, pois existem hipóteses desta relação de exposição ocupacional com a cárie e doença periodontal.
Orregia et al (1989), Merletti et al (1991) e Andreotti et al (2006) relacionaram os casos de câncer oral com fatores de risco e ocupações.
Nestes estudos não se obteve uma relação de fator de risco com a incidência oral estatisticamente significante. A incidência de câncer oral está associada ao consumo de álcool, tabaco e exposição à luz solar. Ocupações em que os trabalhadores estão expostos à luz solar, sem proteção, pode ter uma maior incidência de câncer oral, principalmente no lábio.
Há uma hipótese da relação da incidência de câncer oral com agentes químicos, oriundos de vários segmentos industriais e ocupações. Estudos mais detalhados precisam ser realizados, com fatores de risco mais específicos relacionando a incidência de câncer oral.(Andreotti, 2006).
A exposição ocupacional ao chumbo foi estudada por Sagara (1954) e Birman (1979), citados no estudo de Kaskela (2007). A evidência da intoxicação pelo chumbo é a linha de Burton, caracterizada como uma linha azulada na mucosa gengival. Algumas alterações nos dentes, mucosa bucal, gengiva, podem ser observadas em intoxicações por chumbo.
Outros estudos foram realizados, relacionando fatores de risco com manifestações bucais. Shiot et al (1980) associaram a presença de lesões brancas em mucosa bucal com sopradores de vidro. Petersen et al (1988) demostraram uma forte relação da exposição ao pó do quartzo, em uma indústria de granito, com a severidade da abrasão dental. Holland (1994) não observou uma diferença significativa estatisticamente entre o grupo de trabalhadores expostos e o grupo de não expostos ao vapor de mercúrio, apesar de alguns estudos provarem a relação entre a exposição e algumas manifestações bucais. Linden (1996) relacionou o estresse ocupacional e a progressão da doença periodontal, mas o artigo não detalha o tipo de ocupação de cada indivíduo, somente o grau de satisfação do mesmo, no trabalho. A amostra foi relativamente pequena para afirmar uma relação entre o estresse ocupacional e a progressão da doença periodontal, mas existe uma suposição ao fato. Lie et al (1998) apud Yaedú (2006) avaliou a condição de saúde bucal de empregados em uma fábrica de alumínio, mas não obteve diferença significativa entre os trabalhadores e o tipo de trabalho exercido. Wiktorsson (1999) demonstrou a relação entre e presença de erosão dental, em profissionais que trabalham como provadores de vinhos, sabendo que estes têm o pH ácido. A alta prevalência encontrada em um pequeno número de indivíduos examinados sugere um alto risco a presença de erosão dental, neste tipo de ocupação. Cortiano (2006) salientou a importância do uso de equipamentos de proteção individual (EPI) e proteção coletiva. Apesar de pequena a diferença dos resultados entre a indústria A e B; pode-se observar maior índice de sinais e sintomas na indústria B, aquela que não tinha todos os equipamentos de proteção coletiva, apresentando mais manifestações bucais devido ao processo galvânico. Alguns destes autores salientam a importância da higiene bucal em condições de maior risco à cárie e doenças periodontais, visitas regulares ao cirurgião-dentista e ao uso de equipamentos de proteção individual.
5 CONCLUSÃO
Segundo a proposição, através da revisão de literatura e discussão pode-se concluir:
- Agentes químicos podem provocar manifestações nos dentes (desgastes e cáries), alterações periodontais e alterações de mucosa.
- Agentes mecânicos podem provocar desgastes, traumas dentais ou em mucosa.
- Agentes físicos podem provocar alterações de periodonto, de mucosa e dental.
- A exposição ocupacional a névoas ácidas pode provocar erosão dental e alterações periodontais.
- A exposição ao pó do açúcar e farinha sugere um aumento da prevalência de cárie e doença periodontal.
- A incidência de câncer oral pode estar associada a alguns fatores de risco ocupacionais, principalmente agentes químicos.
- O uso de equipamentos de proteção individual, as visitas regulares ao cirurgião-dentista, a boa higiene oral e programas de promoção de saúde bucal dentro dos ambientes de trabalho, são maneiras de prevenir as manifestações bucais decorrentes de exposições ocupacionais.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Almeida TF, Vianna MIP. O Papel da Epidemiologia no Planejamento das Ações de Saúde Bucal do Trabalhador. Saúde e Sociedade. 2005; 14(3): 144-154.
Almeida TF, Vianna MIP, Santana VS, Gomes Filho IS. Exposição ocupacional a névoas ácidas e perda de inserção periodontal. Cad Saúde Pública. 2008; 24(3): 495-502.
Amin WM, Al-Omoush SA, Hattab FN. Oral health status of workers exposed to acid fumes in phosphate and battery industries in Jordan. Int Dent J. 2001; 51(3): 169-174.
Andreotti M, Rodrigues NA, Cardoso LMN, Figueiredo RAO, Eluf-Neto J, Wünsch-Filho V. Ocupação e câncer da cavidade oral e orofaringe. Cad Saúde Pública. 2006; 22(3): 543-552.
Cortiano FM, Rodege GL, Pizzato E. Odontologia do trabalho: O processo galvânico e sua interação com a saúde bucal do trabalhador. Rev Sul Bras Odontol. 2006; 3(1): 59-63.
Esteves, R.C. Manifestações bucais das doenças profissionais. Rev Bras Saúde Ocup.1982; 10(40): 56-60.
Ferreira WC. Erosão dental e névoas ácidas [Monografia]. Campinas: Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic, 2006.
Holland RI, Ellingsen DG, Olstad ML, Kjuus H. Dental health in workers previously exposed to mercury vapour at a chloralkali plant. Occup Environ Med. 1994; 51(10): 656-659.
Kaskela EMC. Efeito da exposição ocupacional ao chumbo sobre a saúde do trabalhador [Monografia]. Campinas: Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic, 2007.
Linden GJ, Mullally BH, Freeman R. Stress and the progression of periodontal disease. J Clin Periodontol. 1996; 23(7): 675-680.
Masalin K, Murtomaa H, Meurman JH. Oral health of workers in the modern Finnish confectionery industry. Community Dent Oral Epidemiol. 1990; 18(3): 126-130.
Masalin KE, Murtomaa HT, Sipilä KP. Dental caries risk in relation to dietary habits and dental services in two industrial populations. J Public Health Dent. 1994; 54(3): 160-166.
Merletti F, Boffetta P, Ferro G, Pisani P, Terracini B. Occupation and cancer of the oral cavity and oropharynx in Turin, Italy. Scand J Work Environ Health. 1991; 17: 248-254.
Nogueira DP. Odontologia e saúde ocupacional. Rev Saúde Públ. 1972; 6: 211-223.
Orregia F, De Stefani E, Correa P, Rivero S, Fernández G, Leiva J, et al. Occupational exposure in cancer of the mouth, pharynx and larynx. An Otorrinolaringol Ibero Am. 1989; 16: 365-376.
Petersen PE. Dental health among workers at a Danish chocolate factory. Community Dent Oral Epidemiology. 1983; 11(6): 337-341.
Petersen PE, Gormsen C. Oral conditions among German battery factory workers. Community Dent Oral Epidemiol. 1991; 19(2): 104-106.
Petersen PE, Henmar P. Oral conditions among workers in the Danish granite industry.
Scand J Work Environ Health. 1988; 14(5): 328-331.
Schour I, Sarnat B. Oral manifestations of occupational origin. JAMA. 1942; 120(15): 1197-1207.
Teles MP, Almeida TF, Cangussu MCT, Vianna MIP. Exposição ocupacional e saúde bucal do trabalhador. Rev Ci Méd Biol. 2006; 5(1): 48-54.
Tomita NE, Cordeiro R, Mendonça J, Senger V, Lopes ES. Oral health conditions of workers from a brazilian food industry. Rev FOB.1999; 7(1/2): 67-71.
Tuominen M. Occurrence of periodontal pockets and oral soft tissue lesions in relation to sulfuric acid fumes in the working environment. Acta Odontol Scand. 1991; 49(5): 261-266.
Tuominen M, et al. Association between acid fumes in the work environment and dental erosion. Scand J Work Environ Health. 1989; 15(5): 335-338.
Tuominen M, et al. Tooth surface loss and exposure to organic and inorganic acid fumes in workplace air. Community Dent Oral Epidemiol. 1991; 19(4): 217-220.
Vianna MIP, Santana VS. Exposição ocupacional a névoas ácidas e alterações bucais: uma revisão. Cad Saúde Pública. 2001; 17(6): 1335-1344.
Wiktorsson AM, Zimmerman M, Angmar-Mansson B. Erosive tooth wear: prevalence and severity in Swedish winetasters. Eur J Oral Sci. 1999; 105(6): 544-550.
Yaedú RYF. Levantamento epidemiológico das lesões bucais e as suas relações com a profissão, gênero, idade, biotipo e procedência dos pacientes atendidos na Clínica de Estomatologia da Faculdade de Odontologia de Bauru - Universidade de São Paulo [dissertação]. Bauru: Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo; 2005.
Formado em 2001 pela Faculdade de Odontologia de Araraquara, e Especialista em Odontologia do trabalho, atuando como clínico geral em consultorio particular desde 2003.
Crie seu perfil para interagir com Dr. Mateus e mais 160 mil dentistas.
Envie seu comentário
Cadastre-se grátis e opine sobre este artigo.