Bruxismo e Apertamento - Causa Ou Conseqüência do Stress

  Artigo, 25 de Mar de 2015

INTRODUÇÃO

O stress tem sido reconhecido por todas as áreas como um conjunto de sinais e sintomas decorrentes de uma vida estafante, desgastante e sedentária. Apesar dessa não ser a definição mais correta para a palavra “stress”, tem sido a de melhor aceitação pela comunidade em geral.

Dentro da Odontologia, nos deparamos freqüentemente com distúrbios de funções que são denominados de parafunções. Dessas parafunções, a mais importante e de mais difícil solução é o bruxismo ou apertamento.

Bruxismo é a atrição rítmica dos dentes, em movimentos que não sejam os mastigatórios e que ocorrem especialmente durante o sono.

Na clínica diária, utilizamos esse termo para incluir todas as formas de “parafunção involuntária que envolve contato dental: ranger de dentes e apertamento dental”.

Não há qualquer propósito funcional nesses movimentos, em contraste com atividades funcionais como mastigação, deglutição e fonação.

Ainda não foi completamente compreendida a relação entre bruxismo e apertamento, mas reconhece-se que eles são os maiores contribuintes da dor craniofacial.

ETIOLOGIA

Existem inúmeras teorias quanto à etiologia do bruxismo/apertamento. As mais aceitas nos dão como fatores principais às discrepâncias oclusais e “stress” emocional.

O bruxismo/apertamento provoca prolongadas contrações isométricas que em muito excedem a força presente na mastigação normal, causando desgaste dentário, distúrbios articulares, dificuldades mastigatórias, desvios dos movimentos mandibulares, sinovite, capsulite, cefaléia e hiperatividade com dor nos vários grupos musculares.Estes problemas se tornam mais presentes no período da noite, devido à ausência de mecanismos de proteção.

Dentre todas as causas as mais aceitas são: psicológicas, oclusais, sistêmicas, neurológicas, locais e fatores combinados.

Etiologia Psicológica

Problemas familiares, financeiros ou profissionais são fatores que podem provocar situações de estresse e que em determinadas pessoas podem desencadear surtos de bruxismo.

O ser humano possui uma tendência natural de apertar e esfregar os dentes sob sentimento de raiva e tensão.Segundo Molina (1989) crianças reprimidas durante a fase de expressão oral, podem apresentar maior tendência a bruxismo/apertamento.

Segundo estudos realizados na Universidade de Helsinque, os portadores de desequilíbrio emocional e raiva reprimida desenvolvem com maior facilidade o bruxismo/apertamento. Encontra-se também grande relação entre o bruxismo/apertamento e a ansiedade, hostilidade e a preocupação.

Por ocorrer em níveis de subconsciente, na forma de arco reflexo, o paciente muitas vezes não se dá conta da presença do bruxismo/apertamento, principalmente nos estágios iniciais da doença.

Etiologia Oclusal ou Local

Contatos oclusais anormais, com restaurações incorretas, cálculos periodontais, hiperplasia gengival e outros fatores como mastigação viciosa e postura inadequada são fatores relacionados a presença de bruxismo/apertamento.Nesses casos representam uma tentativa do organismo de eliminar a discrepância oclusal e restabelecer uma oclusão fisiológica e balanceada, através de mecanismos neuromusculares.

Kidd & Collin observaram que o músculo masseter de um paciente portador de bruxismo/apertamento contrai quatro vezes mais que os indivíduos sem patologia.

Bonacin (1988) determinou que em 24 horas de um dia, somente 14 minutos são de contatos oclusais em uma pessoa de oclusão normal. No bruxômano esses contatos podem representar quase a totalidade do dia.

Etiologia Sistêmica

A literatura cita vários fatores relacionados ou causadores do bruxismo/apertamento.

Distúrbios relacionados ao

Sistema Endócrino – pacientes com hipertireoidismo, em virtude do aumento do metabolismo e da excitabilidade

Sistema Nervoso Central – crianças com paralisia cerebral, assim como pacientes em coma, têm alta incidência de bruxismo/apertamento

Influências de Origem Genéticas.

Etiologia Combinada

A maioria dos autores sugere a combinação de interferências oclusais e condições neuropáticas como a etiologia mais aceita.Alguns autores consideram a tensão emocional associada à má-oclusão como os mecanismos mais importantes para se instalar o bruxismo/apertamento.

Todos os autores são unânimes quando dizem que a patologia é provocada por discrepâncias oclusais quase sempre associadas a estresse emocional.

SINAIS E SINTOMAS

Como as forças originárias do bruxismo/apertamento serão transmitidas para outras estruturas, é necessário avaliar as condições de resistência destas estruturas que irão suportar tais cargas e sua capacidade de se adaptar à elas, ou seja , deve-se observar as conseqüências de toda a força gerada no bruxismo/apertamento que será suportada pelo periodonto, ATM, dentese cadeias musculares envolvendo também a postura.

Sobre o periodonto, os efeitos são praticamente os mesmos do trauma oclusal.Na existência de doença periodontal pré-existente, a recuperação dos tecidos é praticamente nenhuma, uma vez que as forças sobre essas estruturas estão em constante ação.As pressões excessivas e constantes do apertamento dental podem provocar alargamento ou espaçamento do ligamento periodontal, com destruição das fibras, rompimento da lâmina dura, necrose e mobilidade dental.

Sobre a musculatura, o aumento da tensão dessa musculatura estará presente pelo aumento da tensão emocional .Ao dormir, o paciente procura os pontos de desequilíbrio oclusal para apertar e liberar a tensão emocional acumulada durante o período de vigília.

O apertamento freqüente e crônico provoca fadiga muscular, espasmo e dor muscular, dor essa que pode induzir a mais dor e mais apertamento, estabelecendo um ciclo vicioso tensão-apertamento-espasmo-dor-tensão apertamento...

As tensões musculares são transmitidas, através das cadeias musculares, para todo o corpo alterando a postura, com encurtamento e compressão de alguns grupos musculares e estiramento de outros.

Sobre a ATM os efeitos são bastante significativos provocando alterações intensas com pressão constante e excessiva sobre os componentes articulares, principalmente disco, cápsula e pterigóideo lateral. Pressionando essas estruturas interfere-se também no metabolismo e repouso da ATM, dando como resultado final dor e desconforto.Artrose, destruição dos ligamentos, dores estalidos e ruídos são algumas das alterações mais comuns.

Sobre as estruturas dentais ocorrem desgastes excessivos das facetas, podendo chegar a fraturas, dores, tornando a mastigação ineficiente comprometendo todas as funções do sistema estomatognático.

TRATAMENTO

O controle do estresse com o relaxamento progressivo e técnicas de auto relaxamento são fundamentais para o progresso do tratamento. A idéia de que o bruxismo/apertamento seja uma forma de expressar a explosão da tensão nervosa é com freqüência veementemente rejeitada pela maioria dos pacientes bruxômanos. É necessário, portanto, que se inicie o tratamento com uma orientação sobre as possíveis causas e conseqüências dessa patologia.

A fisioterapia com massagem, exercícios de relaxamento muscular e calor úmido, são capazes de romper por um determinado tempo o ciclo espasmo-dor-tensão-espasmo do paciente.

Drogas miorrelaxantes são utilizadaos para diminuir a hipertensão muscular, permitir uma melhor manipulação da mandíbula, promovendo certa influência sobre o indivíduo. Essas drogas servem para um alívio temporário da tensão muscular não servindo para a solução do problema.

A correção oclusal deve ser feita para se buscar o equilíbrio. Muitas vezes recorre-se a placas oclusais para promover relaxamento da musculatura e mudança de postura mandibular. O uso de aparelhos ortopédicos funcionais pode também ser necessário para modificar padrões, alterar pontos de contato, devolver funções, restaurar plano oclusal, promover remodelação óssea ou eliminar hábitos nocivos, fatores que podem estar promovendo, corroborando, perpetuando ou agravando o bruxismo.

O tratamento deverá nortear-se pelo conjunto causa emocional mais oclusal, mais existencial levando o paciente para tratamentos bio-psico-sociais e correções oclusais, quer seja por meio de aparelhos ou por intervenção direta.

Por fim, o profissional deve ter em mente a prevenção como melhor caminho para se evitar os danos decorrentes dessa parafunção. A única arma disponível para se conseguir a prevenção é através da comunicação, divulgando a importância de se identificar essa tão desconhecida patologia. 

Márcia do Amaral Sampaio

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Autora

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Marcia Sampaio

Cirurgiã-Dentista

 São Paulo, SP

Dra. Marcia Sampaio é Cirurgiã-Dentista em São Paulo, SP. Possui graduação em odontologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista (Araraquara). Atua como especialista em... Leia mais

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