Daniel Palhares
Ribeirão Preto, SP
Implant prosthesis: cement-retained or screw-retained? Literature review.
Daniel PALHARES1*, Celso Eduardo SAKAKURA1, Marcelo Bighetti TONIOLLO2, Carla Moreto SANTOS3, Wilson MATSUMOTO3, Regina Maura FERNANDES3, Renato José BERRO3.
1 Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos – UNIFEB, Programa de Mestrado em Ciências Odontológicas, Av. Prof. Roberto Frade Monte 389, Aeroporto, CEP 14783-226 Barretos (SP). 2 Universidade de São Paulo – USP, FORP/USP – Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, Avenida do Café, s/n, Monte Alegre, CEP14040-904 Ribeirão Preto (SP).
3 Associação Odontológica de Ribeirão Preto – AORP, Rua Alice Além Saad 650, Nova Ribeirânia, CEP 14096-570 Ribeirão Preto (SP).
RESUMO
Os implantes osseointegrados começaram a atuar na área odontológica de maneira mais segura e previsível há aproximadamente quatro décadas. Inicialmente, de forma coadjuvante, e a partir da década de 80 os implantes osseointegrados passaram a ser utilizados rotineiramente para solucionar problemas de edentulismos parciais ou mesmo para reposição de elementos isolados. Levando-se em conta o planejamento das próteses sobre implante, dois tipos de retenção podem ser utilizadas: cimentadas ou parafusadas. O reabilitador deve levar em consideração as características, indicações e contraindicações, assim como vantagens e desvantagens de cada uma dessas opções protéticas para eleger os componentes, a fim de solucionar satisfatoriamente os casos clínicos. As próteses parafusadas são bem indicadas para pequenos espaços entre os arcos, tendo boa resolubilidade em casos de coroas clínicas curtas. Além disso, sua reversibilidade é um item importante, sobretudo em casos mais extensos. Por outro lado, o parafuso oclusal de retenção da prótese parafusada pode apresentar-se de forma muito superficial prejudicando tanto a estética como a função da reabilitação. Já as próteses cimentadas são capazes de manter a integridade da superfície oclusal, o que favorece sua aparência e funcionabilidade. Aliado a isso, há sua passividade, a qual representa outra vantagem neste tipo de planejamento protético. No entanto, a irreversibilidade é uma característica inerente a estas próteses, podendo ser amenizada com o eventual uso dos cimentos temporários. Diante de todas estas propriedades dos tipos de retenção das próteses sobre implantes, pode-se concluir que cabe ao reabilitador sempre buscar novas informações e se atualizar quanto aos conceitos e novidades a respeito dos variados sistemas protéticos. Assim, será possível eleger o melhor tratamento em cada caso visando o melhor prognóstico possível.
Palavras-Chave: Prótese dentária fixada por implantes; Implantes dentários. ABSTRACT
Osseointegrated implants began to have its performance in the dental field in a more secure and predictable way for nearly last four decades. Initially, as coadjutants, and since 1980, the osseointegrated implants started to be used very often to solve partial edentulous problems or even for a single tooth. About the planning of implant prosthesis, two kinds of retention can be used: cement-retained or screw-retained. The rehabilitator must consider the characteristics, indications and contraindications, as well as advantages and disadvantages of each one of these options to elect the prosthetic components and to resolve satisfactorily the clinical cases. The screw-retained prostheses are well indicated to small spaces between the arches and capable of resolving problems in cases of short clinical crowns. Moreover, its reversibility is an important issue, especially in more extensive cases. Furthermore, the occlusal screw retention of the prosthesis may be superficially, affecting not only the aesthetic as the function of rehabilitation. The cement-retained prostheses are able to maintain the integrity of the occlusal surface, which favors its appearance and functionality. Allied to this, there is its passivity, which represents another advantage in this type of prosthetic planning. However, the irreversibility is an inherent feature of the cemented prosthesis, which can be relieved with the possible use of temporary cements. Considering all these properties of the type of retention of the implant prosthesis, it can be concluded that the rehabilitator always need to be seeking new information and update of the concepts and news about the varied prosthetic systems. Thus, it will be possible to choose the best treatment for each case in the best possible prognosis.
Keywords: Implant-supported prosthesis; Dental implants.
*Autor para correspondência: E-mail: danielpalhares@hotmail.com ou danielpalhares@gmail.com Fone: 16-41411816, 34411816 Recebido em: 14/03/2011 Aceito para publicação em: 28/06/2011
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Próteses sobre implante: cimentada ou parafusada?
INTRODUÇÃO
Após os trabalhos desenvolvidos por Branemark na década de 60, os implantes osseointegrados têm ganhado destaque crescente nas reabilitações protéticas de maneira segura e previsível (FRIBERG et al., 2000; GOODACRE et al., 2003).
Desenvolvidos para ser utilizados como pilares de ancoragem de próteses totais mandibulares, estes implantes, usualmente em número de quatro a seis, recebiam, após o período de cicatrização inicial e a segunda etapa cirúrgica, próteses em resina reforçada com infraestrutura metálica que eram retidas aos “abutments” (intermediários), por meio de parafusos de ouro, denominados parafusos de retenção. O fato das próteses serem parafusadas sobre os implantes e não cimentadas, como as reabilitações sobre dentes naturais, trouxe o grande beneficio da reversibilidade, podendo removê-las para higienização, reparos, avaliação dos implantes e tecidos periimplantares. Sobretudo para reabilitações protéticas extensas, em pacientes com idade avançada ou com dificuldades para manutenção de um nível desejável de higiene, este benefício deve ser considerado como de fundamental importância para a longevidade do trabalho executado (TAYLOR et al., 2000).
A partir da década de 80, os implantes osseointegrados passaram a ser utilizados rotineiramente para solucionar problemas de edentulismos parciais ou mesmo para reposição de elementos isolados. Contribuiu para isso o desenvolvimento de componentes protéticos com grande apelo estético, fazendo com que as próteses sobre implantes se tornassem cada vez mais confiáveis, diminuindo assim a necessidade de remoção periódica das reabilitações, abrindo espaço para as próteses cimentadas que possuem maior passividade, melhor estética e distribuição das forças oclusais (TAYLOR e AGAR, 2002; EISENMANN et al., 2004). Atualmente, as pesquisas estão voltadas para a utilização de cimentos temporários (provisórios) que permitem a fácil remoção da prótese, solucionando o problema da reversibilidade (CHEE e JIVRAJ, 2006).
Assim, com a evolução dos casos e da história da implantodontia, bem como o aprimoramento das técnicas, tem-se estudado e evoluído quanto à aplicabilidade das próteses implanto-suportadas visando sua melhor função e estética.
Revisão da literatura
A literatura é vasta quanto à escolha do uso de próteses parafusadas ou cimentadas (SHADID e SADAGA, 2010).
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No entanto, ainda assim, muita dúvida existe em relação a qual sistema deve-se optar nos mais variados tipos de planejamentos existentes.
Durante a vida de uma prótese sobre implante, o clínico poderá ter que remover a prótese para higienização, reparos e reaperto de parafusos. Por tal motivo o sistema parafusado tornaria todos estes procedimentos mais facilmente alcançáveis.
As próteses parafusadas sobre implantes trouxeram o grande beneficio da reversibilidade, ou seja, pode-se removê-la para higienização, reparos ou avaliação dos implantes e tecidos periimplantares. Sobretudo em pacientes com idade avançada ou com dificuldade para manutenção de um nível desejável de higiene, esse benefício deve ser considerado como de fundamental importância para a longevidade do trabalho executado (BEZERRA e ROCHA, 1999; MACEDO, 2000).
Por outro lado, os parafusos das próteses recebem cargas cíclicas elevadas em casos de parafunção. Assim, os parafusos retentores estão em risco de fratura ou soltura a longo prazo. Estas complicações são responsáveis por muitos dos problemas encontrados nas próteses retidas por parafuso, com a soltura do parafuso relatada em 6 a 38% das próteses (KALLUS e BESSING, 1996).
A idealização da colocação dos implantes no centro do sulco central da prótese ou próximo à cúspide de contenção cêntrica foi para que as forças oclusais incidissem axialmente e pudessem ser melhor absorvidas (MISCH, 2000).
Além da questão do posicionamento do implante, outros fatores foram listados como possíveis de levarem ao afrouxamento do parafuso oclusal: falha de aperto adequado; desgaste da supraestrutura; deflexão da supraestrutura; desajustes dos demais componentes; detritos no parafuso; desenho do parafuso e elasticidade do osso, permitindo movimento do implante (BINON, 1996).
Outra questão importante é o assentamento passivo em próteses parafusadas, o qual apresenta um desafio técnico difícil. Assentamento inadequado pode levar à introdução de tensões prejudiciais aos implantes e aos tecidos de suporte. A consequência dessas tensões pode incluir afrouxamento e fratura dos parafusos de retenção, fraturas da armação metálica ou da cerâmica (MACEDO, 2000).
Além disso, o fato de uma prótese retida por parafuso não selar a interface ou margem abutment/ coroa, que abriga bactérias no sulco, pode até agir como um bombeamento de endotoxinas, que encoraja a proliferação de microorganismos na região sulcular (JANSEN et al., 1997).
Na prótese sobre implante cimentada não há
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nenhum espaço entre a coroa e abutment. Uma conexão de metal com metal totalmente justaposta é formada apenas com uma linha de cimento entre elas (MISCH, 1995).
A utilização de componentes protéticos pré- fabricados como “copings” de transferência, análogos e cilindros de ouro, foi sugerida a fim de contribuir para um melhor assentamento cervical das próteses sobre implantes parafusadas (LEWEIS, 1997).
A estética no canal de acesso do parafuso, particularmente se o canal for feito de metal, é um complicante nas próteses parafusadas. Mesmo no caso do metal ficar profundo com a aplicação da porcelana, visando melhor estética, fraturas na mesma em volta do canal de acesso podem acontecer (CHEE, 1999).
Além disso, o uso de “inlay” de cerâmica para vedação do canal de acesso do parafuso de retenção oclusal, estaria menos indicada para próteses extensas ou para pacientes com dificuldade de higienização, onde a reversibilidade seria mais solicitada e este procedimento se tornaria trabalhoso e de alto custo (BEZERRA e ROCHA, 1999).
O diâmetro mínimo do canal de acesso do parafuso de retenção oclusal é de 3mm e, quando comparado ao diâmetro total da mesa oclusal do segundo pré-molar inferior, que é de 5,5mm, este orifício ocupa 55% de toda a superfície oclusal (HEBEL e GAJJAR, 1997).
Assim, a prótese sobre implante parafusada necessita de um bom posicionamento do implante para um ótimo direcionamento do canal de acesso para o parafuso. Um mau direcionamento pode levar a uma prótese pouco estética (CHEE, 1999).
A cimentação da prótese sobre implante elimina a falta de estética causada pelo canal de acesso da prótese parafusada. Segundo alguns autores, quando comparada à prótese parafusada sobre implante, a prótese cimentada tem o potencial de compensar qualquer discrepância dimensional na adaptação da prótese com o abutment, e isso pode contribuir com o aumento da passividade. Além disso, comentam que muitos dentistas não consideram a retenção por cimento uma opção em próteses implantosuportadas, pois acreditam que as próteses cimentadas não são recuperáveis. No entanto, o cimento, quando usado apropriadamente, pode reter próteses implantosuportadas e promover a reversibilidade. Os autores propõem a utilização de cimentos temporários associados à vaselina, havendo assim, a possibilidade de remoção da prótese cimentada (HEBEL e GAJJAR, 1997).
A reversibilidade das próteses quando cimentadas com cimento temporário também foi
constatada por outros autores, corroborando em tal afirmação (MISCH, 2000).
Além disso, a introdução no mercado de componentes que não necessitam de frequentes apertos no parafuso do abutment tem reduzido a necessidade de remoção das próteses cimentadas sobre implantes (VIGOLO et al., 2000).
Em casos de pouco espaço protético vertical em que pode não haver altura suficiente para a instalação de um pilar sólido a fim de se promover uma retenção adequada, a prótese parafusada se faz muito interessante, já que sua estabilização é dada pelo parafuso de retenção e não pela retenção friccional das paredes do preparo, não dependendo da altura do espaço protético, promovendo estabilidade retentiva mesmo no caso de coroas curtas (BEZERRA e ROCHA, 1999; MACEDO, 2000).
Com toda a certeza, uma das principais vantagens de uma supraestrutura retida por parafuso é a retenção mais discreta do sistema de abutment. As próteses cimentadas requerem um componente vertical de pelo menos 5mm para fornecer retenção e resistência, além de uma inclinação dita como ideal das paredes próxima a 6 graus, evitando com isso a perda da retenção friccional (JORGENSEN, 1995).
A retenção da prótese sobre o pilar será função direta do tipo de cimento, do desenho do pilar, da altura, da largura, do grau de convergência e da aspereza entre as superfícies nas quais o agente de cimentação encontra-se (BARBOSA, 2008).
Por causa da altura do abutment, coroas sobre implantes retidas por cimento temporário podem ser de difícil remoção (COVEY et al., 2000).
Nas próteses sobre implantes cimentadas há um fator de grande valia para a adequada biomecânica de todo o sistema reabilitador, que é a adaptação passiva entre a supraestrutura e o pilar intermediário, sendo responsável por impedir ou minimizar as concentrações de tensões no osso adjacente ao implante (JEMT, 1991).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em prótese sobre implantes, para a definição do tipo de retenção, cimentada ou parafusada, o reabilitador deve ter em mente as indicações, vantagens e desvantagens de cada uma destas fixações protéticas.
Facilidade de Confecção e Custos
As próteses sobre implante cimentadas possuem característica de confecção mais simples
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comparativamente às parafusadas. Isso se deve às técnicas protéticas convencionalmente utilizadas, tanto clínicas como laboratoriais, na confecção de próteses em geral (HEBEL e GAJJAR, 1997).
Além disso, sabe-se que as próteses parafusadas apresentam maior custo devido à maior necessidade de componentes. No entanto, tal custo aumentado permite uma melhor previsibilidade em caso de eventual necessidade de reversibilidade da prótese, em comparação a uma cimentada (GERVAIS e WILSON, 2007).
Reversibilidade no sistema de fixação
A reversibilidade é um item importante, sobretudo em casos mais extensos. A prótese parafusada sobre implante apresenta o beneficio da reversibilidade, que permite a remoção da prótese para higienização, reparos ou avaliação dos implantes (BEZERRA e ROCHA, 1999; MACEDO, 2000).
Em pacientes com idade avançada ou com dificuldade para manutenção de um nível desejável de higiene, esse benefício torna-se importante para a durabilidade do trabalho (BEZERRA e ROCHA, 1999).
O maior problema apresentado na técnica de cimentação é justamente a irreversibilidade, que pode ser evitada fazendo-se uso de cimentos temporários associados à vaselina (BEZERRA e ROCHA, 1999; HEBEL e GAJJAR, 1997; MISCH, 2000).
A prótese cimentada sobre implante não é reversível quando se usa um cimento definitivo, porém a utilização de um cimento temporário favorece sua remoção, tomando-se apenas o cuidado para que a peça não se solte durante a função (HEBEL e GAJJAR, 1997). Contudo, até mesmo com a utilização de cimentos provisórios, as próteses cimentadas podem ser de difícil remoção (KIM et al., 2009). É comprovado que a conicidade ideal do abutment e a sua longa parede permitem o uso de cimento provisório para a retenção da prótese por um longo período (FREITAS et al., 2007).
Superfície oclusal
Em alguns casos o parafuso oclusal pode apresentar-se superficial e mesmo com a utilização de resinas de última geração e opacas, é possível ver a sombra da infraestrutura metálica ou do parafuso de retenção por transparência, gerando desarmonia estética. (FREITAS et al., 2007).
Varias técnicas foram desenvolvidas para resolver este problema, como a confecção de “inlays” de cerâmica para vedação do canal de acesso do parafuso de retenção oclusal (BEZERRA e ROCHA, 1999).
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Outros artifícios foram usados para as reabilitações protéticas retidas por parafusos, como a utilização de obturador de silicone associado à resina acrílica fotopolimerizável (ADRIAN, 1992).
Algumas questões fundamentais são geradas, como por exemplo, a necessidade futura da remoção destas próteses após a utilização da incrustação cerâmica, ou ainda o custo adicional gerado em um procedimento que já é bastante elevado. (FREITAS et al., 2007).
A falta de suporte na região do orifício aumenta os riscos de fratura para a cerâmica, pois por questões estéticas nem sempre é possível infraestrutura metálica como suporte adequado. (LEE et al., 2010).
Cabe salientar que pouco se encontra na literatura a respeito de materiais para vedação do canal de acesso do parafuso de retenção, sendo esta problemática ignorada por grande parte dos autores (SILVA et al., 2011).
Outro fator importante a ser verificado é a interferência do parafuso na anatomia oclusal, comprometendo também a função. A restauração retida por parafuso geralmente tem cargas deslocadas na cúspide vestibular mandibular ou cúspide palatina maxilar, que é uma carga em cantilever e que aumenta a força devido ao movimento de alavanca. Já a prótese cimentada pode ter o contato oclusal diretamente sobre o corpo do implante (MISCH, 2000).
A grande vantagem da utilização de próteses
cimentadas é a integridade da superfície oclusal, quer seja do ponto de vista funcional ou estético (BEZERRA e ROCHA, 1999).
Este tipo de reabilitação é realizado sobre abutments personalizáveis, tornando o procedimento menos complexo e dispendioso. (SHADID et al., 2010).
Adaptação passiva da prótese sobre implante
As fundições passivas representam uma vantagem considerável nas próteses cimentadas. Os espaçadores para troquéis criam um espaço de aproximadamente 40 micrômetros para o cimento, que compensa uma parte da alteração dimensional dos materiais de laboratório e permite a confecção de uma fundição mais passiva com as próteses cimentadas (SILVA et al., 2011).
Além disso, a prótese cimentada tem o potencial de compensar qualquer discrepância dimensional na adaptação da prótese com o abutment, contribuindo com o aumento da passividade (MACEDO, 2000; HEBEL e GAJJAR, 1997; MISCH, 2000).
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Outra característica a ser mencionada é a ausência de espaço entre a coroa e o abutment, sendo uma conexão de metal com metal justaposta, apenas com uma linha de cimento entre eles, aumentando assim, a passividade (MISCH, 2000).
Com relação à prótese parafusada sobre implante, assentamento passivo é um desafio técnico difícil. Um assentamento inadequado pode provocar o afrouxamento e fratura dos parafusos de retenção, fratura da armação metálica ou da cerâmica (MACEDO, 2000).
A má adaptação das próteses sobre implante está diretamente relacionada com complicações biológicas e mecânicas (DUYCK e NAERT, 2002).
Muitos autores acreditam que próteses sobre implante cimentadas têm melhor capacidade para obter adaptação passiva do que as parafusadas, uma vez que o agente cimentante poderia agir absorvendo impactos e reduzindo tensões transmitidas ao osso e todo o complexo do implante (EISENMANN et al., 2004).
No entanto, existem inúmeros fatores que afetam diretamente a adaptação e passividade das próteses sobre implante, entre eles a precisão de todo o processo de fabricação, incluindo moldagem e fundição, além da habilidade do operador e técnico em prótese (HECKMANN et al., 2004).
Há relatos que as próteses sobre implante parafusadas possuem menor “gap” de interface entre suas conexões do que as cimentadas. Como consequência, estas poderiam gerar maior risco de colonização e dissolução do cimento, além de inflamação gengival. Para melhorar a adaptação passiva das próteses sobre implante parafusadas, pode-se lançar mão de duas técnicas relatadas na literatura: secção da infraestrutura em partes e solda a laser (EISENMANN et al., 2004; HEBEL e GAJJAR, 1997).
Distribuição da tensão provocada pelas cargas mastigatórias no componente/implante/osso
Há grande preocupação com relação ao comportamento biomecânico da infraestrutura das próteses sobre implante, uma vez que toda e qualquer carga sobre ela gerará uma distribuição de tensões na interface osso-implante, podendo acarretar inúmeras consequências (ERKMEN et al., 2010).
Influência de vários fatores são presentes no comportamento das próteses, como diâmetro dos implantes, comprimento, desenho de superfície, posicionamento espacial, entre outros. Os tipos de sistemas de conexão entre o implante e a prótese sobre implante também variam e repercutem em seu desempenho, além da questão destas próteses serem
parafusadas ou cimentadas (GENG et al., 2004). A escolha entre uma retenção por parafusos ou por cimentos exerce uma grande influência no plano de tratamento final, já que atinge, de maneira direta, a força transmitida aos componentes e a interface osso-implante (HECKMANN et al., 2004). Estudo das tensões induzidas em implantes, por meio de análise fotoelástica, tanto em próteses parciais fixas cimentadas como parafusadas, revelou que as infraestruturas cimentadas geram níveis mais baixos de distribuição de tensão quando submetidas à carga compressiva, comparadas às próteses parafusadas. No entanto, tanto as próteses cimentadas como as parafusadas não possuem adaptação totalmente passiva, podendo produzir tensão de baixa magnitude nos implantes (MANZI
et al., 2009). Outra metodologia também usada para
análise da distribuição de tensões nos implantes e estruturas circunjacentes é o método dos elementos finitos. Autores já demonstraram, utilizando-se de tal metodologia, que há maior acúmulo de tensões na crista alveolar do osso cortical e nas próteses quando estas são parafusadas. Além disso, as maiores tensões concentram-se na porção cervical dos pilares, fato este que pode estar diretamente relacionado às complicações como soltura e/ou fratura do parafuso de retenção (QUARESMA et al., 2008).
Formato e tamanho dos pilares
É bem documentado na literatura odontológica que muitos fatores influenciam o resultado da retenção nas próteses cimentadas, tanto nos dentes naturais, quanto nos abutments de implantes. Estes fatores são conicidade ou paralelismo, área de superfície e altura, superfície polida ou rugosa e tipo de cimento (HEBEL e GAJJAR, 1997).
A inclinação ideal das paredes de um preparo deve estar próxima a 6°, evitando com isso a perda de retenção friccional. Este conceito pode ser empregado tanto para preparos em dentes, quanto para abutments sobre implantes (JORGENSEN, 1995).
Assim, pode-se dizer que a vantagem primária de uma supraestrutura retida por parafuso é a retenção mais discreta do sistema de abutments. Já as próteses cimentadas requerem um componente vertical de pelo menos 5mm para fornecer retenção e formar a resistência. Casos com pequeno espaço entre os arcos geram coroas clínicas mais curtas, havendo a indicação de próteses parafusadas, já que a estabilização é dada pelo parafuso de retenção e não pela retenção friccional das paredes do preparo (BEZERRA e ROCHA, 1999; MACEDO, 2000).
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Carregamento imediato
As próteses sobre implante parafusadas são consideradas as de escolha para a realização de carga imediata, já que resquícios de cimento podem causar injúrias aos tecidos periimplantares, prejudicando tanto a cicatrização tal como a osseointegração.
Além disso, a interface de componentes usinados é superior em relação à margem de qualquer tipo de cimento (KEITH et al., 1999).
Outro fator é que a retenção do parafuso proporciona uma imobilização mais definitiva e rígida aos componentes e respectivos implantes, aumentando a estabilidade primária (CHEE e JIVRAJ, 2006).
Complicações
Uma complicação da prótese parafusada é a falha dos componentes do parafuso por fadiga. O diâmetro estreito do parafuso da prótese reduz sua resistência a longo prazo (GOODACRE et al., 2003).
O limite da fadiga ou resistência é aproximadamente a metade da resistência máxima de um material. Os parafusos da prótese recebem cargas cíclicas elevadas, em um caso de parafunção. Como resultado, os parafusos retentores estão em risco de fratura ou soltura. (SHADID et al., 2010).
O desgaste das roscas, por causa de soltura do parafuso, pode ocorrer quando a restauração é repetidamente removida e reinserida durante vários anos. Um parafuso com o dobro do diâmetro é 16 vezes mais forte. Por ser o diâmetro do parafuso oclusal menor que qualquer um dos componentes do implante, ele corre maior risco de fratura (KALLUS e BESSING, 1996).
Já nas próteses cimentadas, as complicações acontecem quando há fratura ou desgaste da superfície estética da prótese, cerâmica ou resina. Nessa situação, o profissional se vê obrigado a seccionar a peça e confeccionar um novo trabalho. (KALLUS e BESSING, 1996).
CONCLUSÃO
Os artigos científicos consultados permitem algumas considerações pontuais:
A prótese cimentada sobre implante tem como principal vantagem a passividade, estética oclusal e a integridade da superfície oclusal;
A prótese parafusada sobre implante tem a reversibilidade como maior vantagem e deve ser indicada em casos de coroas curtas, em que o espaço interoclusal é pequeno.
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PALHARES et al
A literatura a respeito do assunto tratado é vasta, com muitos estudos e considerações diversas sobre o comportamento das próteses sobre implantes parafusada e cimentada. É importante destacar que cabe ao profissional avaliar cada caso de forma individualizada e ponderar sobre as características inerentes a cada tipo de sistema de retenção, adequando-o à situação em que está sendo aplicado, já que ambos podem ser corretamente utilizados, desde que haja adequado planejamento do caso. Não há evidências que favoreçam, de forma geral, um mecanismo de retenção em detrimento ao outro.
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Graduado pela Universidade de Mogi das Cruzes - UMC;
- Pós-graduado em Implantodontia-AORP;
- Especialista em Prótese Dentária pela Associação Odontológica de Ribeião Preto... Leia mais
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