Tratamento Endodôntico em Segundo Molar Superior com Variação Anatômica e Uso do Sistema Reciprocante Wave One

  Caso clínico, 02 de Jan de 2014

Resumo

Relato de caso Prof. Dr. Carlos Bueno e equipe

Introdução

A complexidade da anatomia do sistema de canais radiculares constitui um desafio contínuo para o endodontista. A morfologia do segundo molar superior permanente contém inúmeras variações, referentes ao número de raízes, de canais e à sua localização. Assim, o sucesso do tratamento endodôntico está relacionado ao domínio da anatomia. Este estudo teve como objetivo apresentar o tratamento endodôntico de um segundo molar superior com pulpite irreversível em que o microscópio operatório associado aos insertos ultrassônicos foi fundamental para o domínio da anatomia. Localizaram-se quatro canais, dois deles mesio-vestibulares, sendo atípica a localização do canal MV2.

O sistema Wave One (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suíça - Figura 1) utiliza a cinemática recíproca rotatória, ou seja, oscilação com rotação. Sua espira é torcida no sentido anti horário, obrigando o motor a rodar também nesse sentido, diferente dos outros instrumentos rotatórios. A secção do instrumento é triangular convexa na base do instrumento, apresentando ângulo de corte mais agudo, com maior poder de corte. A ponta tem secção triangular convexa modificada, tendo menor poder de corte, apresentando mais massa e maior resistência à fratura. Proporciona maior centralização do preparo do canais radiculares, apresentando grande capacidade de corte e reduzindo o tempo de instrumentação.

Caso Clínico

Paciente do gênero masculino, 64 anos, leucoderma, normossistêmico, procurou a clinica particular, com o objetivo de realizar o tratamento endodôntico do dente 17. O paciente relatava uma dor pulsátil e localizada no referido dente, que não cessava com o uso de analgésicos. Verificou- se, após exame clínico e exame radiográfico (Figuras 2 e 3), a presença de uma extensa cárie ocluso-distal em contato com a cavidade pulpar. A partir dos sinais e dos sintomas, o diagnóstico foi de pulpite irreversível, sendo sugerido o tratamento endodôntico seguido de reabilitação protética, devido à extensa destruição coronária.

Inicialmente, o paciente foi anestesiado com dois tubetes de solução de Mepivacaína 2% e Epinefrina 1: 100.000 (DFL Indústria e Comércio S.A., Rio de Janeiro, Brasil) usando a técnica terminal infiltrativa. Após a realização do isolamento absoluto e anti-sepsia do campo operatório, iniciou-se o acesso à câmara pulpar e remoção de todo o teto.

Durante o exame com um microscópio operatório (Carl Zeiss Opmi Pico, Berling, Alemanha, com aumento entre 8 e 12,5), encontraram-se três orifícios de canais: mésio-vestibular (MV), disto-vestibular (DV) e palatino (P). Com o auxílio de insertos ultrassônicos TRA 24 (Dental Trinks, Pirituba, São Paulo, SP, Brasil) acoplados em um aparelho de ultrassom J Morita (Suita. City, Osaka, Japão), o acesso coronário foi retificado. Após cateterismo inicial com limas tipo K #10 (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suíça), os canais foram instrumentados com limas PathFile (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suíça), até o terço apical, para a criar o glide path, sendo que estas não promovem transporte de forame por apresentarem ponta inativa e ângulo de transição suave. Posteriormente, foi realizada a odontometria, com localizador foraminal eletrônico (Root ZX II, J Morita, Suita City, Osaka, Japão), e radiografia, com limas para identificação dos canais. A instrumentação dos canais foi realizada com limas reciprocantes do sistema Wave One (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suíça), por intermédio de um aparelho XSmart Plus (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suíça), sendo a instrumentação dos canais mésio-vestibular (MV) e disto-vestibular (DV) realizada com o instrumento Primary 025.08 e a instrumentação do canal palatino (P) com o instrumento Large 040.08, até o comprimento de trabalho (1 mm aquem do comprimento real do dente), com movimentos de entrada e saída. Ao longo do processo de limpeza e modelagem, a irrigação foi realizada com hipoclorito de sódio a 2,5% (Biodinâmica Química e FarmacêuticaLtda., Ibiporã, PR, Brasil). Em seguida, foi realizada a patência foraminal com lima tipo K #10, 1 mm além do comprimento de trabalho, em todos os canais radiculares. Ao término, realizou-se a irrigação ultrassônica passiva (PUI), com 5 ml de hipoclorito de sódio a 2,5% (Biodinâmica Química e Farmacêutica Ltda., Ibiporã, PR, Brasil), 5 ml de EDTA 17% (Fórmula & Ação, São Paulo, SP, Brasil) e, em seguida, irrigação final com hipoclorito de sódio a 2,5% (Biodinâmica Química e Farmacêutica Ltda., Ibiporã, PR, Brasil), sendo essas soluçoes agitadas passivamente com inserto ultrassônico TRA 12 (Dental Trinks, Pirituba, São Paulo, SP, Brasil) em aparelho de ultrassom J Morita (Suita. City, Osaka, Japão), em potência 30%, por 20 segundos por cada canal.

Os canais radiculares foram secados com Capillary Tip (Ultradent, South Jordan, Utah, EUA) e cones de papel absorvente Wave One Primary e Large (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suíça). A obturação dos três canais radiculares foi realizada na mesma sessão com cones de guta-percha Wave One Primary e Large (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suíça), mediante a técnica de onda contínua de condensação, utilizando-se o aparelho Touch’n Heat (SybronEndo), com cimento AH Plus (Dentsply DeTrey, Konstanz, Alemanha) (Figura 4).

Em uma segunda sessão, constatou-se presença do canal MV2 (Figuras 5 e 6), após nova retificação do acesso coronário. Com o auxílio do inserto ultrassônico TRA 24 (Dental Trinks, Pirituba, São Paulo, SP, Brasil), acoplado ao aparelho de ultrassom J Morita (Suita. City, Osaka, Japão). O canal MV2 apresentava localização atípica, em direção ao canal palatino, terminando no mesmo vértice do canal MV, sendo, então, instrumentado e obturado de forma semelhante ao canal MV (Figura 7). A radiografia final evidenciou claramente a presença dos quatro canais radiculares (Figura 8). O acesso coronário foi selado com resina composta provisória, e o paciente, encaminhado para o tratamento restaurador (Figura 10).

 Conclusão

 O conhecimento da anatomia interna, bem como de suas diversidades, é de suma importância para o sucesso do tratamento endodôntico. Tecnologias que possibilitam magnificação visual aliadas à elevação da luminosidade, ao desgaste seguro das estruturas dentárias e à visualização tridimensional do elemento dental podem aumentar o domínio da anatomia.

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