A perfuração da raiz é definida como uma comunicação mecânica ou patológica entre o mecanismo periodontal do dente e o sistema de canal radicular.
Não há orientações disponíveis baseadas em evidências em relação a forma mais eficaz de gerenciar esta forma de complicação iatrogênica1. De acordo com Siew et al 2015, um prognóstico favorável pode ser obtido através da reparação da raiz perfurada não cirurgicamente, com uma chance total de sucesso de cerca de 80,9%, ao usar o material baseado em MTA.
No entanto, o MTA também tem algumas desvantagens. Devido à sua consistência, sua manipulação e posicionamento no local de reparo podem ser desafiadores. Além disso, seu uso pode causar descoloração do dente2. Um novo material, MTA REPAIR HP — “High Plasticity” MTA (Angelus®, Brasil, www.angelus.ind.br) foi recentemente introduzido com a intenção de melhorar algumas dessas características3. Esta nova fórmula mantém todas as propriedades químicas e biológicas do MTA original. No entanto, possui diferentes propriedades físicas de manipulação, resultando em uma maior plasticidade, facilitando a manipulação e inserção. Além disso, sua fórmula utiliza tungstato de cálcio de diferente radiopacidade (CaW04) em vez de óxido de bismuto, que segundo o fabricante, não provoca a coloração da raiz ou coroa dentária.
O objetivo deste relatório foi apresentar os resultados de 8 casos de perfuração dentária tratados durante o retratamento endodôntico com o uso de um novo material de reparação baseado em MTA.
Materiais e Métodos
Protocolo de seleção, diagnóstico e retratamento
O estudo experimental foi realizado em 8 dentes de 7 pacientes adultos com idade entre 33 a 75 anos que foram indicados ao nosso consultório particular, em São Paulo, Brasil, de dezembro de 2014 a agosto de 2015 para retratamento endodôntico.O diagnóstico de perfuração foi confirmado pela visualização clínica com o uso de um microscópio durante o retratamento dos dentes. A abordagem de tratamento utilizada representa a técnica padrão em todos os casos4. Todos os dentes mostraram uma lesão radiotransparente associada à falha. A localização de cada perfuração foi determinada e gravada com uma sonda periodontal calibrada.
Protocolo de Reparo da Perfuração
A abordagem de tratamento utilizada representa a técnica padrão em todos os casos4:
i) Retratamento endodôntico: a perfuração foi preenchida antes da obturação dos canais de modo a impedir que o material obturador fosse forçado na região da falha;
ii) Cauterização térmica foi usada para a remoção de tecido de granulação;
iii) Descontaminação da perfuração com uma ponta ultrassônica E3D (Helse, Brasil, www.helsedental.com.br) e irrigação com solução de clorexidina 2% (Formula & Ação, Brasil, www.formulaeacao.com.br) e soro fisiológico;
iv) A preparação do MTA Repair HP foi feita de acordo com as recomendações do fabricante. O material foi gentilmente conduzido na falha com o uso de um explorador endodôntico e condensado com um condensador endodôntico de tamanho adequado;
v) O endurecimento do MTA Repair ocorreu após 10-15 minutos;
vi) Uma pequena quantidade de ionômero de vidro foi usada para cobrir e proteger o material após a presa do MTA Repair.
A restauração provisória foi realizada de tal forma que foi bem adaptada às paredes do canal e com contatos proximais adequados, evitando o desalojamento entre as sessões operatórias. As restaurações finais foram realizadas em um período de 7-14 dias posteriormente Foi realizada uma radiografia final imediatamente após o procedimento endodôntico.
Exame de Acompanhamento
Os resultados dos controles clínicos foram analisados pelos dois autores 12 meses após retratamento para verificar a ausência de falha periodontal na área de perfuração, de dor, inchaço, ou trato sinusal. O tipo e a qualidade da restauração também foram verificados. A qualidade da restauração coronária foi avaliada clinicamente por inspeção visual e tátil através de microscópio, bem como radiografia. As radiografias foram codificadas, armazenadas e posteriormente avaliadas pelos examinadores designados. As radiografias pré-operatórias, pós-tratamento e de acompanhamento foram examinadas de forma independente numa sequência aleatória. Critérios clínicos e radiográficos para categorizar cada dente foram feitos usando os seguintes critérios: cicatrização - agrupados em dois tipos, i) completa (ausência de radiolucência periapical e ausência de sinais/sintomas); ii) incompleta (redução avançada do tamanho da radiolucência periapical e ausência de sinais/sintomas), ou falha de tratamento (presença de dor, inchaço, um trato sinusal, bolsa periodontal, e radiolucência periapical inalterada)4.
Resultados
Na avaliação radiográfica de retorno após 12 meses, verificou-se que dois casos apresentaram cicatrização completa (Figuras 1 a 8) com os espaços PDL intactos.
Discussão
Esses casos mostram que as perfurações podem ser reparadas com êxito com o MTA Repair HP. Neste relatório clínico, a identificação precisa da localização de uma perfuração com o uso de microscópio pode ajudar a melhorar a desinfecção e a realização de uma boa vedação na região da falha. A utilização de um MTA modificado (cimento reparador de alta plasticidade baseado em MTA-Biocerâmico) demonstrou resultados clínicos positivos considerando o curto período de acompanhamento observado. Do ponto de vista clínico, manuseio e colocação do MTA Repair HP foram mais fáceis em comparação ao MTA convencional. A restauração adequada do dente após a reintervenção endodôntica é fundamental no processo de cicatrização dos tecidos perirradiculares. Em todos os casos deste estudo, uma restauração final foi realizada no acompanhamento sem sinais clínicos/radiográficos de vazamento.
A importância de casos clínicos é mostrar que é possível reparar defeitos de perfurações com o uso de protocolos clínicos de tratamento com base científica. Os relatos dos dentistas têm um papel importante na área da odontologia, mas devem ser validados através de estudos laboratoriais e de investigação clínica adequada. Em conclusão, o protocolo clínico usando o novo MTA Repair HP descrito nestes relatórios de caso foi eficaz para reparar as perfurações radiculares, sugerindo que seja uma tentativa válida para salvar os dentes afetados.
Referências
1. Siew K, Lee AHC, Cheung GSP. Treatment outcome of repaired root perforation: A systematic review and meta-analysis. J Endod. 2015;41(11):1795-1803.
2. Felman D, Parashos P. Coronal tooth discoloration and white mineral trioxide aggregate. J Endod. 2013; 39(4):484-7
3. Angelus. MTA REPAIR HP. http://angelus.ind.br/MTA-REPAIR- HP-292.html. Accessed April 4, 2016
4. Zuolo ML, Kherlakian D, de Mello JE, Fagundes MIRC, Carvalho MCC. Reintervention in Endodontics. Quintessence ed Ltda 2014, pp:205-238
AUTOR:
Mario Luis Zuolo, Doutor em Cirurgia Dental, Mestre, Especialidade de Endodontia em São Paulo, Brasil. Ele é Mestre em Biologia Molecular pela Escola de Medicina da UNIFESP, São Paulo, Brasil, e professor no departamento de pós-graduação de Endodontia na EAP-APCD, São Paulo, Brasil. Dr. Zuolo promove palestras globalmente sobre endodontia. Autor de várias publicações desde 1998, mais recentemente, coescreveu Reinterventionin Endodontics, publicado pela Quintessence em 2014.
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